CARLO CARCANI

A regra de mentirinha

Carlo Carcani
carlo@rac.com.br
19/04/2013 às 15:29.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:38

Art. 21 - O atraso na remuneração pactuada em contrato de trabalho (...) sujeitará o clube à perda de três pontos por partida a ser disputada depois de reconhecido o descumprimento (...) e enquanto perdurar a inadimplência.

O artigo acima faz parte do regulamento do Campeonato Paulista e apareceu pela primeira vez na edição do ano passado. Infelizmente, o que poderia se transformar em um avanço no futebol paulista se transformou em mais uma regra do faz de conta.

Quando anunciou a "novidade", em setembro de 2011, o presidente da Federação Paulista, Marco Polo Del Nero, prometeu uma revolução no combate aos salários atrasados. "Pelo que observamos, não adianta ficar falando que não pode gastar mais do que recebe, então vamos fazer isso. A gente espera que, com a medida, não se repita mais essa coisa de explodir o orçamento e deixar a bomba estourar para o sucessor", disse o cartola em 2011.

Seria muito bom se fosse verdade, mas está aí o Guarani (não é o único, mas é um caso notório) para mostrar que a regra foi criada apenas para causar impacto no seu lançamento. Fora isso, sua única missão é cair no esquecimento.

"Vamos trabalhar em conjunto com o Sindicato de Atletas, que vai nos informar de algum salário atrasado. Esse é um assunto que a Fifa vem discutindo e temos que tomar uma atitude para não permitir que aconteça uma greve no Brasil", afirmou Del Nero. Apesar de vários atletas do Guarani admitirem publicamente que estão sem receber, os responsáveis pelo "trabalho conjunto" entre Federação e sindicato aparentemente não perceberam a infração ao regulamento.

É lamentável que a FPF tenha jogado no lixo uma boa oportunidade de levar essa ótima ideia adiante. Muitos clubes de futebol são administrados de forma totalmente irresponsável, assumindo contratos que são incapazes de honrar. Além da regra nunca aplicada por Del Nero, existem outras formas de combater o problema.

A CBF poderia, por exemplo, proibir a inscrição de novos atletas de clubes com dívidas trabalhistas. Medida muito dura? Claro que não. Mal maior aos clubes faz o futebol ao permitir que se afundem em dívidas e ainda assim continuem gastando fortunas em novas contratações, prática comum no Flamengo (outro exemplo que não é único, mas notório). O clube carioca anunciou que sua dívida é R$ 750 milhões, valor muito maior do que imaginava até a realização de uma auditoria. Com regras de mentirinha como a do Paulistão, esse quadro nunca vai mudar.

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