HELIO PASCHOAL

A recuperação não é para agora

Helio Paschoal
07/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 11:27

A esta altura da crise econômica plantada e colhida pelo atual governo, já é possível afirmar com razoável dose de certeza que as coisas não devem melhorar nem neste, nem no próximo ano.Os números não deixam muitas dúvidas quanto à primeira afirmação. Não há um único sinal de melhora em um único setor da economia. Produção, vendas, negócios, investimentos - tudo vem em queda constante há meses. E se até ontem isso era um problema restrito às notícias das páginas especializadas dos jornais, algo que parecia interessar apenas aos empresários, hoje começa a assumir um significado bem mais próximo do cidadão comum, porque os níveis de emprego começam a sentir o baque de tanta paralisia econômica.A última pesquisa da Pnad Contínua, do IBGE, divulgada na semana passada, por exemplo, apontou um índice de desemprego de 8% - o que significou, na prática, um aumento de 1 milhão de pessoas sem trabalho no período de um ano.Ora, o quadro se agravou a tal ponto, que não é mais crível que será revertido dentro de um prazo específico. O discurso do governo diz que “tudo melhorará no ano que vem”. Desculpem, mas acho isso muito pouco provável.Para a economia, passar de dezembro para janeiro não significa coisa alguma. A crise não se deixa comover pelo clima de Ano Novo. Ela não veste branco. Não há Réveillon que afaste os números ruins, por mais que desejos que isso aconteça. Mas as entidades de análise mais sérias do mercado, tanto aqui no Brasil quanto no Exterior, já alertaram que uma eventual recuperação da economia brasileira só acontecerá (e diz-se “eventual” porque pode perfeitamente não acontecer) a partir de 2017. Ou seja, a conta que teremos que pagar pela inclassificável incompetência deste governo (que é o mesmo que gerou a atual crise) será muito mais longa e muito mais dura do que dão a entender os seus integrantes e (incrível que ainda os haja) defensores.E é bom não esquecer que a conta vem sendo paga integralmente por nós, os bobos que trabalham e pagam impostos. Quando o governo vem a público dizer que está “cortando na própria carne” está usando do mesmo cinismo que sempre usou para justificar seus desmandos e burrices.O que está sendo cortado são recursos destinados originalmente a programas sociais, de educação, de saúde e de segurança, entre outros - ou seja, tudo aquilo a que nós, os bobos, teríamos direito a receber de volta pelos impostos que pagamos. Ora, isso não é cortar na própria carne, é cortar - e duas vezes - a carne de quem sustenta essa piada de mal gosto que se denomina administração federal.Se essa história de cortes fosse real, já teríamos visto reduções brutais em verbas de gabinete e a dispensa em massa de milhares de cupinchas e apadrinhados políticos que não fazem absolutamente nada, mas que abarrotam a administração pública e dela recebem gordos salários. Isso sim, seria cortar na própria carne. Certo é que não apenas o governo federal deveria dar sua contribuição - sincera, não cínica - ao esforço para superar a crise. Também as outras instâncias de poder precisariam fazê-lo. Mas vemos, ao contrário, um Legislativo voraz em aumentar seus privilégios de uma maneira no mínimo ofensiva em um momento complicado como esse.Tudo somado, mais o tempo necessário para que as medidas de correção da economia que estão sendo tomadas, torna-se de fato pouco provável esperar um 2016 melhor do que vem sendo este 2015. Ou seja, as coisas ainda vão piorar mais antes de começarem a melhorar.Mas, caso sirva de consolo, acabarão melhorando, mesmo ao alto custo que estamos e continuaremos a pagar; a economia, afinal, é um ente que sabe lidar com as crises. O que varia é o ritmo com que ela as supera; quanto menos bobagens se fizerem no caminho, mais rápido será o processo.Espera-se que pelo menos essa lição tenha sido aprendida, e que todo o esforço que estamos fazendo agora não seja alongado mais do que o necessário; sacrifícios, afinal, têm limites - e paciência também. E já ficou bastante claro que o brasileiro está perigosamente próximo de atingi-los. E romper estes limites transformaria a crise econômica em alguma coisa muito próxima de uma revolta generalizada, quadro que ninguém gostaria de ver.A grande incógnita, neste momento, é saber até onde irá o sangue frio e a autonomia da equipe econômica, que precisará conviver com pressões que tendem a crescer quanto mais demorem a surgir os resultados esperados de suas medidas e decisões. Se ela for capaz de não ceder a essas pressões, se for capaz de manter a linha que traçou, pode ser que o prazo para a recuperação econômica seja um pouco mais curto. Caso contrário, voltaremos à estaca zero - e nesse caso, sabe-se lá o que pode acontecer.

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