Coluna publicada na edição de 15/9/19 do Correio Popular
Ao conquistar o US Open, Rafael Nadal colocou o 19º troféu de Grand Slam em sua galeria. Tio e treinador do grande campeão, Toni Nadal aproveitou o feito histórico para contar uma passagem interessante do início da carreira do espanhol. Aos 15 anos, Nadal perdia um jogo de um torneio juvenil por 5 a 0. Toni acompanhava de longe, para não pressionar o garoto, quando foi avisado por um amigo que Nadal estava jogando com uma raquete quebrada. Incrédulo, se aproximou da quadra e viu que a raquete estava mesmo rachada. O treinador deu uma bronca no sobrinho depois do jogo. Perguntou como, aos 15 anos, ele não havia percebido que seu material estava danificado. O jovem surpreendeu ao responder que estava tão habituado a assumir a culpa por seus erros e não arranjar desculpas para derrotas que nunca pensou que o problema naquela partida pudesse estar em seu próprio material. A coluna de hoje começa com essa história por dois motivos. O primeiro é que sempre é muito interessante notar como é dificílimo moldar a personalidade de um grande campeão. A coisa mais comum é um garoto se irritar com uma derrota e, pressionado, procurar mil motivos para justificar um fracasso. Nadal, desde cedo um tenista diferenciado, estava no extremo oposto. Atribuía a si mesmo toda a responsabilidade por qualquer erro. E, com esse pensamento, foi capaz de corrigir deficiências, evoluir e escrever seu nome na história como um dos maiores de todos os tempos. O outro motivo é para analisar a entrevista que Tite concedeu após a derrota por 1 a 0 para o Peru. O treinador optou por iniciar a partida com vários reservas, a Seleção Brasileira jogou muito mal e perdeu para um adversário que conseguiu derrotar duas vezes na Copa América, por 5 a 0 e 3 a 1. Tite até poderia justificar o resultado com o argumento de que preferiu fazer algumas observações. Mas jamais deveria ter reclamado do gramado após uma derrota como essa. O gramado em Los Angeles realmente estava péssimo, mas, é bom lembrar, atrapalhou os dois times. Se a raquete do adversário de Nadal também estivesse rachada, o resultado teria sido outro. Tite agiu corretamente ao cobrar a CBF e a empresa responsável pela organização da partida, mas o fez na hora errada. Poderia ter feito isso na entrevista que antecedeu a partida. Poderia ter feito isso dois ou três dias depois. Mas jamais poderia ter destacado esse problema na entrevista pós-jogo. Alguns jogadores também reclamaram do gramado. Jamais deveriam fazer isso. A Seleção Brasileira é a única pentacampeã do mundo. É uma das maiores da história. E, diante de suas raras derrotas, deve sempre se comportar com a honradez do menino Nadal. Grandes campeões não devem procurar desculpas para seus fracassos. Devem assumi-los em qualquer circunstância.