Coluna publicada na edição de 31/1/18 do Correio Popular
Junho de 2017. Semanas depois de chegar à final do Paulista, a Ponte Preta anunciou a prorrogação do contrato de Aranha. Aos 36 anos, ele estava em alta, depois de grandes atuações nos playoffs do Estadual. Assinou um novo acordo com validade até o final de 2019. Janeiro de 2018. Semanas depois de ser rebaixada à Série B, a Ponte Preta anuncia que Aranha, agora com 37 anos, não faz mais parte dos planos e que vai tentar um acordo amigável para rescisão do contrato. Por que a Ponte Preta se arrependeu de uma decisão tomada há tão pouco tempo? O que mudou entre junho e janeiro? O que fez com que o ídolo, respeitado e valorizado em junho, passasse a ser uma peça descartável em janeiro? Duas mudanças importantes aconteceram no Moisés Lucarelli nesse período. Uma nova diretoria foi eleita e o time caiu para a Série B. A chapa que venceu a eleição teve o apoio da situação. Um ou outro nome foi trocado, outros permaneceram, mas de um modo geral é um grupo liderado pelo presidente de honra, Sérgio Carnielli. A troca de Vanderlei Pereira por José Armando Abdalla, portanto, não provocou nenhuma revolução na gestão do clube. O estilo é o mesmo. A mudança brutal ocorreu com a queda para a Série B. Em 2017, a Ponte trabalhou com o que ela anunciou ser o maior orçamento de sua história: R$ 53,3 milhões. Desse valor, R$ 40.734.200,06 foram destinados ao departamento de futebol, com uma folha de pagamento do elenco na casa dos R$ 27 milhões. Com esse dinheiro — pouco para os grandes, uma fortuna para qualquer clube do interior —, faz sentido oferecer a um ídolo em boa fase um salário na casa dos R$ 100 mil. Foi o que a Ponte fez com Aranha em junho. A torcida gostou, o atleta ficou feliz com o reconhecimento e a diretoria festejou a permanência do segundo goleiro que mais vezes vestiu a camisa do clube, atrás apenas do lendário Carlos. Em pouco tempo, a alegria virou arrependimento. Com a drástica redução do orçamento para a temporada de 2018, Aranha passou a ser um jogador “velho” e “caro”. A diretoria tentou adequar o contrato com uma oferta que o atleta sequer levou em consideração. As duas partes ainda negociam, mas não é difícil que o caso se transforme em um processo trabalhista. Fica claro que o grande erro da Ponte nessa história foi ter oferecido um salário de Série A por dois anos e meio. Quem disputa um campeonato tão difícil como o Brasileiro não pode trabalhar a longo prazo e ignorar completamente o risco de ter uma corte significativo de orçamento. Nada disso estaria acontecendo se a Ponte tivesse tido, em junho, o cuidado de acrescentar uma cláusula de readequação de salário em caso de queda. Como não tomou essa precaução óbvia, o clube arranhou o relacionamento com um ídolo, deixou de contar com uma peça importante do elenco e ainda corre o risco de ter que responder a um processo de R$ 3 milhões. O erro foi banal. Já as consequências...