Coluna publicada na edição de 14/3/20 do Correio Popular
O pandemia do novo coronavírus abalou o calendário do esporte mundial, o que, evidentemente, não é nada perto do impacto na saúde pública e na economia global. Mas, por despertar o interesse de uma enorme parcela da população, as drásticas mudanças na rotina das mais diversas modalidades contribuem para aumentar a ansiedade da população. Todo o calendário do tênis profissional foi suspenso por seis semanas, a primeira corrida da Fórmula 1 foi cancelada horas antes do primeiro treino, a NBA vai parar por pelo menos um mês, os principais campeonatos da Europa tiveram rodadas adiadas, assim como a abertura das Eliminatórias da Copa do Mundo. Uefa e COI são constantemente questionados sobre a realizações da Euro e do Jogos Olímpicos de Tóquio. No Brasil, as primeiras medidas foram anunciadas nas últimas 72 horas. A Conmebol adiou a próxima rodada da Libertadores e a Federação Paulista determinou que o clássico de hoje entre São Paulo e Santos, no Morumbi, seja realizado sem a presença de público. No momento em que escrevo essa coluna, no início da tarde de ontem, ainda não se sabe se o Dérbi 196 terá ou não público nas arquibancadas do Brinco de Ouro. Não tenho nenhum conhecimento sobre saúde pública para opinar sobre o que Brasil deve fazer, mesmo tendo, no momento, um número muito menor de casos do que na China, Europa e Estados Unidos. Tudo indica que o número de infectados deve disparar por aqui já nos próximos dias, o que justifica plenamente a decisão de realizar eventos esportivos com portões fechados ou mesmo adiá-los por tempo indeterminado. Minha única conclusão é que se é necessário impedir que cinco, dez, vinte ou trinta mil pessoas se reúnam em um estádio a céu aberto por duas horas para impedir a propagação do vírus, então é fundamental que as autoridades tomem medidas imediatas em outros setores, nos quais o risco de transmissão é muito maior. Evidentemente, certas medidas teriam um enorme impacto negativo na economia e na vida de milhões de pessoas, mas esse é o preço a ser pago para que o combate ao coronavírus seja o mais eficiente possível. A partir do momento que se chega à conclusão de que realizar alguns eventos esportivos sem público e adiar outros é um modo eficaz de enfrentar o problema, então é preciso proteger a saúde dos brasileiros em inúmeras outras situações. Não se pode usar a visibilidade que o esporte tem apenas para servir de exemplo à população. É preciso agir com o mesmo critério em todos os setores.