ZEZA AMARAL

A morte do homem comum

Zeza Amaral
14/03/2013 às 05:02.
Atualizado em 26/04/2022 às 00:50
ig-zeza-amaral (AAN)

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Antes de começar a escrever me censurei sobre grafar “viado” ou “veado”. Tenho, pelo visto, preconceito linguístico e, ao mesmo tempo, uma elegância para não ofender leitores heteros ou homossexuais. E já vou dizendo que pouco me importa as preferências sexuais de homens e mulheres. Mesmo porque eles continuam sendo homens e mulheres – e os escondidos dos panos pouco me interessa.

Incomoda-me mesmo as palavras de ordem de alguns ditos movimentos sociais que condenam os que se expressam contra os seus interesses — e todos ignorando o homem comum que somos nós os contribuintes, héteros e homos sem bandeiras, negros, mestiços e brancos idem, e, na sua maioria, sem militância partidária e ideológica e pegando de quatro a seis conduções por dia, e morando longe de uma certa dignidade urbana.

Dias atrás, um rapaz foi atropelado por um outro rapaz que dirigia embriagado um carro e poucas horas depois centenas de ciclistas paralisaram o trânsito central paulistano para protestar contra o acidente, deitando seus corpos e bicicletas na avenida Paulista.

Rendeu boas fotos e algumas colunas nos jornais, mas nenhum repórter ou ciclista foi pesquisar quantos pedestres foram atropelados (268 no semestre passado) na mesma cidade onde vivem. Não vale ser apenas um pedestre para os tais ciclistas paulistanos. O atropelado tem que ser morto ou ferido em cima de uma bicicleta; ou em cima de uma motocicleta; ou ser taxista, motorista de van ou de ônibus; ou, para avançar um pouco mais, um negro militante de alguma ONG racial, ou ser alguém que defenda o meio-ambiente e os animais de rua, cães e gatos (mas jamais os ratos), e que se danem os homens catadores de papel que hoje fazem o trabalho das bestas que o deputado Feliciano Nahimi Filho tanto adora — e que dá votos pra caramba!

Ser gente comum não vale nada. Quando muito uma reza na hora do enterro e só. É sempre o mais do mesmo: o petismo domina as emoções de seus militantes. E quem não está com eles é um inimigo a ser destruído moralmente, difamado e jogado na sarjeta virtual. Protesta-se à vontade no País e o petismo lidera os pedalados ideológicos que não estão nem aí se os corruptos deputados José Genoíno e João Paulo Cunha, ambos condenados pelo STF, ocupam cargos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal. E devem achar normal que o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP), hoje respondendo a 11 inquéritos policiais por suspeição em falcatruas quando secretário da Educação, ocupe a presidência da Comissão de Educação da já citada Câmara Federal.

Querem mais? O deputado João Magalhães (PMDB-MG) está sendo acusado de peculato, crime contra o sistema financeiro e tráfico de influência, e mesmo assim é presidente da Comissão de Finanças e Tributação da mesma Casa da Mãe Joana do Brasil. Gays, ciclistas, taxistas, racialistas, ambientalistas, ateístas, sem-terra, sem-teto, sem-vergonhas em geral, nenhum deles se manifesta contra isso. É uma gente que só gosta de cadáveres.

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