Coluna publicada na edição de 29/5/19 do Correio Popular
Na véspera da final da Liga Europa e a poucos dias da esperada decisão entre Tottenham e Liverpool, o futebol europeu acordou em polvorosa ontem, com a prisão de jogadores e dirigentes envolvidos em manipulação de resultados. O problema não é novo, mas chama a atenção pelo nível dos clubes e atletas envolvidos. Já tivemos muitos casos em que ações da máfia das apostas foram descobertas por interferência em resultados de jogos de categorias de base e divisões inferiores de competições de pouca expressão. Temos casos em diversos países, no Brasil inclusive. O episódio de ontem teve maior repercussão. Raul Bravo, lateral veterano que jogou no Real Madrid de 2002 a 2007, encabeça a lista de atletas detidos pela polícia espanhola. Ele seria o líder de um esquema de manipulação que também envolveria jogadores de times como Valladolid, La Coruña, Huesca e Getafe. Os jogos alterados a mando da quadrilha foram da primeira e da segunda divisão da Espanha. Esse tipo de crime deve ser combatido com rigor em qualquer lugar. Não importa se a manipulação ocorre na Copa do Mundo, na Copa São Paulo, na África do Sul ou na segunda divisão do Carioca. Mas a Fifa, a Uefa e demais confederações precisam ficar atentas com ações em campeonatos de enorme visibilidade como o Espanhol. As casas de apostas movimentam fortunas todos os dias e muitas delas patrocinam clubes e veículos de comunicação. A legislação brasileira já permite, desde o final do ano passado, que casas de apostas patrocinem clubes. Fortaleza e Vasco já assinaram contrato com uma delas e essa pode ser uma fonte de renda importante para os clubes em um futuro próximo. Na Europa, o mercado já está mais do que consolidado e a manipulação em ligas importantes como a espanhola pode provocar danos terríveis para o futebol. A investigação que prendeu atletas de diversos clubes e o presidente e um médico do Huesca começaram há um ano, após um resultado suspeito na penúltima rodada da segunda divisão espanhola. É muito importante que a denúncia à polícia tenha sido feita pela própria La Liga, entidade que organiza o campeonato. Mafiosos e profissionais desonestos estarão sempre à procura do enriquecimento fácil e ilícito. Cabe às federações, dirigentes, atletas e casas de apostas honestos a missão de proteger a credibilidade do esporte profissional. Sem ela, uma atividade que gera empregos, impostos, diverte milhões de pessoas e faz parte da cultura de dezenas de países corre o risco de desmoronar.