Lembro-me pouco das festas comemorativas do centenário de nossa cidade. Tinha pouco mais de 10 anos. Algumas lembranças ainda, no entanto, permanecem vivas em minha memória. Uma delas foi a inauguração ou reinauguração da Praça Coração de Maria, na Vila Tibério. Tivemosa banda do Terceiro BP executando marchas e dobrados no coreto novo, além de fogos de artifício e no final o melhor, um picolé chamado “carioca” do Bar Beija Flor, sorveteria que se situava na Cel. Luiz da Cunha, de frente para a Praça. “Ninguém jamais nesse País” fez picolé como o “carioca”.
Ele era retangular, com pedaços de coco queimados na base do sorvete! Outra lembrança foi o show da Ângela Maria que minha mãe me levou para assistir. Ângela Maria, a Sapoti,se apresentava acompanhada por Manoel da Conceição um violonista fantástico,que pelo tamanho de suas mãos foi apelidado de Mão de Vaca. Foram vários shows que ocorreram no centro de eventos situado no pátio da Cafecram, o conjunto de armazéns situados à direita da saída para Sertãozinho.
Lembro-me também da logomarca comemorativa do centenário. Era um R e cortado por um tipo de lança. Colocaram esse “monumento” no centro do grande espaço das festas. Soube que ele foi transportado parao Museu do Café e espero que o tratem e o conservem com carinho. Nesta época, o prefeito Costábile Romano organizou um concurso para a escolha do Hino da cidade. O trabalho escolhido foi um poema do saudoso Saulo Ramos, musicado pela não menos saudosa Diva Tarlá, Cidadã Emérita em 1968.
Em homenagem prestada ao Dr. Saulo Ramos pela Academia Ribeirão-pretana de Letras, ao ser saudado pela sua Presidente Rosa Cocenza, ela citou um engano que se tornou perpétuo e que eu gostaria que fosse corrigido. Nos documentos oficiais distribuidos pela prefeitura de Ribeirão Preto e nos sites da internet lemosna terceira estrofe do Hino:
“Nasceste do destino nacional
Das caminhadas rumo ao Oeste
E ainda guardas o belo ideal
Dessa epopeia em que nasceste”
Questionado sobre o porquê da repetição do vocábulo “nasceste” na mesma estrofe, o Dr Saulo respondeu com a tranquilidade e simplicidade dos sábios que, na verdade seu poema fora transcrito erroneamente em algum documento oficial e assim ficara. A redação correta é:
“Nascente do destino nacional
Das caminhadas rumo ao Oeste
E ainda guardas o belo ideal
Dessa epopéia em que nasceste”.
Evidentemente a troca de um “ene” pelo“esse” não justifica nenhuma ação “impeachment”a Prefeito ou demissão do Secretário de Cultura. Seria uma ação facilmente defendida e ganha pelo brilhante advogado, mas creio que para uma pessoa de tanto amou essa terra,devíamos, pelo menos, nos documentos oficiais corrigir a redação do Hino.
Em seu livro “Café. A poesia da terra e das enxadas” (Editora Expressão e Cultura- 2002), o poeta nascido em Brodósqui escreve a poesia “Ribeirão Preto” e na sua primeira estrofe diz:
“Nunca pensei que amasse tanto
A terra que não fosse minha
E que por extensão e meu espanto
Amei com tudo quanto tinha”
Por todo esse carinho e amor a nossa cidade, não é justo somente movimentemos os lábios ao ouvirmos o Hino, ou melhor, a poesia a Ribeirão Preto, que é o Hino da cidade. Se você se achar desafinado não se preocupe, você pode ao menos recitá-la. Corretamente não se esqueça.