opinião

A insegurança global provocada pelos Estados Unidos

Reinaldo Dias
18/05/2018 às 12:52.
Atualizado em 28/04/2022 às 09:13

As manifestações da política internacional norte-americana capitaneadas por Donald Trump continuam provocando mais problemas do que soluções para a comunidade internacional. Desta vez o problema foi causado pelo anuncio da retirada do país do acordo nuclear com o Irã, assinado em 14 de julho de 2015 com a participação dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, EUA, França, Reino Unido, Rússia) e a Alemanha. O argumento para o rompimento, segundo Washington, foi de que o Irã não estava cumprindo o acordo em sua integridade e que prosseguia com o programa nuclear. Esta tese não foi aceita pela União Europeia, Rússia, China e a maior parte da comunidade internacional que concorda que o Irã tem cumprido o que foi pactuado. Fato este confirmado pela Organização Internacional de Energia Atômica (OIEA) ligada à ONU e encarregada de monitorar o programa nuclear iraniano e verificar in loco eventuais descumprimentos por parte das autoridades persas. Em comunicado oficial de 9 de maio deste ano afirma que o Irã está cumprindo rigorosamente com todas as obrigações contraídas com a comunidade internacional em 14 de julho de 2015 ao subscrever o acordo nuclear. Os Estados Unidos se distinguiram ao longo dos anos por uma destacada institucionalidade marcada pelo respeito irrestrito às normas e um sistema bem equilibrado entre os poderes do Estado e que o caracterizaram por uma atuação política no qual o conceito de Estado prevaleceu sobre os desejos dos governantes de turno. Desse modo, a comunidade internacional podia ter alguma previsibilidade e confiança de que os acordos firmados numa administração seriam confirmados e cumpridos nas seguintes. Com Donald Trump a confiança e previsibilidade na política norte-americana foi substituída pela incerteza e o imprevisto, pois o atual governante toma decisões inesperadas para um chefe de Estado, surpreendendo muitas vezes até os próprios assessores. Trump tem colocado em dúvida acordos firmados por seus antecessores com argumentos frágeis e pouco fundamentados. Nesse um ano e meio da gestão Trump, os Estados Unidos abandonaram o Acordo de Paris sobre as Mudanças Climáticas, isolando-se mundialmente como a única nação fora do pacto; retiraram-se do Tratado TransPacífico – TPP formado com o Japão e outras dez economias da bacia do Pacífico que representa 40% da produção total mundial; e iniciaram renegociação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, da sigla em inglês) ameaçando o México de liquidar o Tratado se não detivesse o fluxo de drogas e pessoas. Nesse período, Trump ainda decidiu abandonar a UNESCO e ignorou o direito internacional ao reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel A medida adotada por Trump, de se retirar do acordo nuclear com o Irã, confirma sua característica personalista e intempestiva e que o torna imprevisível, principalmente, ao ignorar as recomendações e conselhos de seus aliados e os pactos subscritos pelos seus antecessores. O fato de que Trump possa voltar atrás em acordos, fazê-los e desfazê-los a qualquer momento impacta na confiança de países e coloca os Estados Unidos numa situação nebulosa no qual qualquer acordo vigente pode ser questionado pelo atual mandatário. Não há garantia nenhuma de que qualquer acordo firmado pela atual administração norte-americana seja respeitado. A confiança está na base das relações internacionais e nesse quesito os Estados Unidos estão retrocedendo e o fato surpreende até os analistas mais experientes. A Europa está atônita com as medidas adotadas pelo mandatário norte-americano. A França, Reino Unido e a Alemanha formam um bloco de países que busca resistir se contrapondo às medidas adotadas por Donald Trump e manifestam abertamente a possibilidade de uma Europa mais emancipada em relação aos norte-americanos. As empresas europeias ficarão numa situação desconfortável com as prováveis sanções norte americanas ao Irã se mantiverem o comércio com a nação persa. Washington divulgou que as medidas punitivas já passam a vigorar e que as empresas tem de três a seis meses para deixar o país, do contrário lhes será barrado o acesso ao mercado norte-americano. Não há muita dúvida sobre o que as empresas irão decidir, pois o mercado iraniano é consideravelmente menor que o dos Estados Unidos. O fato é que a ruptura do acordo com o Irã ameaça gerar mais instabilidade no mundo e provocar uma nova corrida armamentista com a retomada do programa nuclear iraniano. Como estão em jogo também os interesses das empresas europeias que investiram no Irã, a União Europeia fará todo possível para preservar o acordo. De todo modo, mais uma vez, as ações de Donald Trump aumentam o fosso com os países europeus e contribuem para tornar o mundo mais inseguro.

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