Faltando cerca de cinco meses para as próximas eleições presidenciais segue incerto, volátil e imprevisível o resultado. O atual panorama eleitoral não poderia ser mais diferente do que os partidos, analistas e jornalistas e muitos eleitores pensavam há poucos meses. O desencanto com os políticos e as instituições, as preocupações econômicas, com a segurança e o mau funcionamento dos serviços públicos na área da saúde e educação abriram a oportunidade para que surgisse o fenômeno dos candidatos “outsiders” do qual até agora o que mais se destaca, embora não tenha se declarado candidato, é o ex-juiz do Supremo Tribunal Federal(STF) Joaquim Barbosa. A figura do “outsider” não é nova na política brasileira, mas agora não se trata de um aspecto secundário da campanha, trata-se de um fenômeno que tenderá a ter papel fundamental na eleição. Há um formidável apoio da população ao combate á corrupção, a Lava jato, na última pesquisa datafolha contava com a simpatia de 84% dos pesquisados. Um candidato oriundo do judiciário e com histórico de combate aos corruptos do mensalão pode se tornar um candidato perfeito para a ocasião. Há, porém, um senão. No caso de Joaquim Barbosa, o grande inimigo de sua candidatura pode ser ele mesmo, que possui uma característica explosiva e incerta em determinadas ocasiões, inflexibilidade no debate e certa intolerância a críticas. No terreno dos candidatos tradicionais, a expectativa de que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin decolasse e se tornasse o aglutinador dos votos de centro aos poucos vai se desvanecendo com as denúncias de corrupção, próprias e de membros do PSDB, com destaque para Aécio Neves que já se tornou réu no STF e o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, que poderá ser preso nos próximos dias. Se de fato ocorrer o esvaziamento da campanha de Alckmin, o ex-prefeito de São Paulo, João Doria, parece pronto para assumir seu lugar. Este, diferentemente do ex-governador, conta com votos espalhados por todo o país. As constantes conversas entre João Doria e Michel Temer apontam a possibilidade de uma aliança, formal ou não, entre o PSDB e o MDB, algo útil para os dois partidos. O PSDB contaria com a máquina do governo federal, que num processo eleitoral indefinido pode ter um papel importante. Neste cenário o MDB contaria com um candidato viável, não chamuscado por denúncias de corrupção e que poderia viabilizar acordos que preservassem aos membros do atual governo postos com foro privilegiado. João Doria é um candidato de centro-direita que tem discurso incisivo, o que vai ao encontro das preferencias da maioria do eleitorado. Atualmente embora seja candidato declarado ao governo do Estado, seus discursos abordam temas afeitos a um candidato presidencial. Recentemente declarou-se defensor entusiasta do Estado mínimo, por exemplo. À direita do espectro político, o candidato Jair Bolsonaro é a maior surpresa até o momento desse processo eleitoral, pois há muito não surgia no Brasil um candidato de posições tão extremadas e com apoio popular. Sua presença no cenário eleitoral é uma novidade que poderá polarizar as eleições, principalmente se for para um segundo turno. No campo da esquerda, com a candidatura Lula fora do páreo, há vários candidatos que buscam se apropriar dos eleitores do petista enquanto o próprio partido não lança candidato próprio. O desgaste que vem passando o PT pode leva-lo a sua maior tragédia eleitoral cuja responsabilidade deve ser remetida à sua direção excessivamente dependente da opinião de um condenado à justiça por corrupção. A falta de visão de seus dirigentes poderá levar o PT a ter um número insignificante de deputados federais, inviabilizando a eleição de muitos que poderiam contribuir para a consolidação do processo democrático brasileiro. Estas eleições também trazem como novidade a regionalização de candidaturas que poderão alterar o equilíbrio do jogo eleitoral num virtual segundo turno. São destaque o senador Álvaro Dias (Podemos) fortemente enraizado nos estados do Sul e Ciro Gomes (PDT) conhecido na região Nordeste onde tende a crescer com Lula fora do cenário. O próprio Geraldo Alckmin tem sua maior aceitação no Sudeste, três em cada quatro de seus eleitores moram nessa região. A disputa final ainda é incerta no país que vive uma profunda e crescente divisão ideológica e ao mesmo tempo possui um significativo número de eleitores independentes que podem inclinar as eleições presidenciais para um lado ou outro. Pode-se antever que a decisão a ser tomada pela maioria do eleitorado ocorrerá mais próxima às eleições ao avaliarem os candidatos em função de sua maior exposição pública e participação nos debates. De todo modo, as eleições devem se tornar interessantes à população pela participação de candidatos que na expressão popular não tem “papas na língua”. Já imaginaram um debate em que participem Ciro Gomes, Joaquim Barbosa, João Doria e Jair Bolsonaro? Será tudo, menos maçante. A diminuição da presença de raposas históricas da política oferecerá, certamente, um cenário diferente nessas eleições. Se será positivo ou não, somente o futuro nos dirá.