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A história contada pelas charges de Dalcio Machado

Com 118 premiações conquistadas, o chargista e caricaturista Dalcio Machado volta da Itália com muitos livros e planos de lançar obras infantis

Agência Anhanguera
06/05/2018 às 12:05.
Atualizado em 28/04/2022 às 07:51

A história contada pelas charges de Dalcio Machado (Divulgação)

Em um de seus provérbios, o filósofo chinês Confúcio afirma: “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Esse pensamento — que já virou clichê — sintetiza muito bem as charges, caricaturas e desenhos de Dalcio Machado, 46 anos, que ‘viajam’ pelo mundo afora, sem barreiras de línguas e culturas. Seu trabalho, repleto de sensibilidade, consegue provocar, trazer à tona uma crítica social, emocionar, encantar e tocar o coração de milhares de pessoas. Não por acaso, ele coleciona - até o fechamento desta edição — 118 premiações espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Quem conhece seus traços sabe bem que eles conversam e afetam o público já no primeiro olhar. Muitos leitores do Correio Popular e do Diário do Povo (já extinto) começavam a manusear as páginas a partir das charges de Dalcio, que sintetizavam sempre um fato impactante do dia. Para se ter uma ideia o talento de Dalcio já rendeu — entre muitos prêmios — o título de melhor do mundo pelo 55th International Cartoonfestival Knokke-Heist, na Bélgica — um dos mais tradicionais prêmios internacionais —; nove prêmios no Salão Internacional de Humor de Piracicaba; dois prêmios na ONU/Lurie UN Award/ EUA; cinco troféus HQMIX, o Oscar do quadrinho nacional, e três prêmios na Bienal de Tenerife, na Espanha. Entre os países que seus trabalhos já foram reconhecidos figuram Japão, Espanha, Coréia do Sul, Portugal, Bélgica, Irã, Turquia, China, Grécia, Itália e Canadá. Grandes acontecimentos históricos foram resumidos e interpretados pelas charges que Dalcio fez e faz ao longo de seus 33 anos de experiência — grande parte passado nas redações do Correio Popular e Diário do Povo, do Grupo RAC (Rede Anhanguera de Comunicação). O talento para desenhar começou muito cedo, ainda na infância. “Morava na fazenda Rio das Pedras e meu pai cuidava de cavalos, mas, além desse trabalho, era um artista e cresci no meio de músicos, de sanfoneiros, dos sons e encantamentos da natureza, ou seja, sempre tive grandes inspirações. O amor pelo desenho começou muito cedo e só aumentou, a ponto de virar profissão”, lembra. Talento e olhar de menino Desde menino ele já desenhava imagens distorcidas, mas não sabia que estava fazendo caricaturas. “Na escola era comum eu ficar fazendo desenhos nos cadernos”, conta. O pai, percebendo o interesse do filho pelos desenhos, o desafiou. “Já que você gosta tanto das tintas vai pintar a cerca da fazenda”. Então entregou a Dalcio uma lata de tinta e um pincel para que pintasse a cerca toda. E ele pintou! Na escola, o artista começou a conhecer os traços de renomados cartunistas e chargistas brasileiros, entre eles Ziraldo, Laerte, Henfil e muitos outros. Com o tempo, passou a ter acesso também a talentos internacionais. “Não existia internet, o conhecimento vinha por meio de jornais, livros e revistas. Um dia encontrei um livro do Ziraldo em um sebo e comprei. Passei a andar com ele embaixo do braço para todo canto”, lembra. Aos 13 anos, Dalcio publicou seu primeiro desenho em um pequeno jornal e com 15 anos foi o mais jovem selecionado do Salão de Humor de Piracicaba. O primeiro prêmio veio aos 17 anos, no Rio de Janeiro, em um salão nacional de humor. Para participar da cerimônia de premiação fez sua primeira viagem de avião. “Meu pai ficou preocupado e costurou o dinheiro que eu estava levando no bolso para não ter perigo”, diz. Foi então que, aos 17 anos — sonhando com o dia que trabalharia em um jornal — juntou seus desenhos numa pasta e foi até a redação do Correio Popular. “Lembro que conversei com o editor Edmur Soares e ele pediu para deixar meus desenhos no arquivo. Meu pai tinha o hábito de comprar o Correio Popular aos domingos, para acompanhar o resultado das corridas de cavalos. Lembro que o jornal ficava na mesa para todo mundo ler. Naquela época, já olhava os desenhos de nanquim que eram publicados e pensava: ‘Será que um dia eu vou trabalhar em um jornal?’ Foi então que no domingo seguinte — após ter pedido emprego — me deparei com um desenho meu e muito emocionado comecei a gritar. ‘Tem uma caricatura minha na capa do jornal!’ Quase infartei, foi um marco na minha vida! No dia seguinte, fui ao orelhão, pois não tinha telefone em casa, liguei no jornal e já pediram para eu levar minha carteira de trabalho”, lembra. Meses depois das caricaturas, ele passou a fazer também as charges do jornal. Nesses 33 anos de experiência revezou períodos entre o Correio Popular e o Diário do Povo e começou a acumular os prêmios no Brasil e no mundo. Também trabalhou com Ziraldo na revista Bundas e depois no Pasquim. Ilustrou capas da Veja e da Playboy. Salão de humor Seu encantamento pelo Salão de Humor de Piracicaba, do qual coleciona nove prêmios – por enquanto - começou muito cedo. “Para mim não tinha Natal, aniversário, nada que superasse minhas participações no salão. Era quase como ganhar a Copa, uma oportunidade de encontrar os caras de quem era fã. Neste ano tenho o privilégio de fazer parte do júri do salão”, conta. De kombi Em 1997, o atual diretor editorial do Grupo RAC, Nelson Homem de Mello, então editor-chefe do Diário do Povo, convidou Dalcio a voltar ao jornal para fazer a charge da página 2. Como não conseguiria acompanhar a rotina da redação — pois já estava com outros desafios — passou a fazer as charges no seu estúdio e mandar para o Diário. “Estamos falando de uma época onde a internet ainda não fazia parte do dia a dia das pessoas. Então, desenhava e pintava a mão e uma kombi do jornal passava no estúdio para pegar, no final da tarde. Era algo muito artesanal, mas foi um período incrível. Depois, com a facilidade da internet, a logística mudou e a kombi ficou na minha memória afetiva”, lembra. Traços marcantes São muitas as charges que marcaram a vida dos leitores e fãs de Dalcio, mas algumas delas ficaram eternizadas na memória de muitas pessoas. Quem não se lembra da charge do Dia dos Pais, onde o menininho pede um caixa bem grande para entregar o presente do pai? Na cena seguinte, ele sobe na caixa para dar o seu melhor presente. Um comovente abraço. Essa charge já foi traduzida para muitas línguas e continua rodando o mundo. De tão tocante, ela virou uma escultura da artista Synnove Hilkner e foi presenteada ao chargista. Quando Neymar se machucou jogando pela seleção do Brasil, Dalcio desenhou o mascote da Copa, o tatuzinho Fuleco, oferecendo seu próprio casco ao jogador contundido. Essa charge se transformou em viral e chegou a ser, na época, terceira imagem mais replicada no Twitter. Para se ter uma ideia do sucesso, a assessora particular do craque ligou para Dalcio e pediu a charge autografada, a pedido do jogador. Outra charge que foi publicada em jornais impressos e digitais de dezenas de países foi sobre a queda do avião da Chapeconese. São tantos momentos marcantes que esse publicitário, chargista, caricaturista, cartunista, autor e ilustrador de livros infantis já eternizou que fica até difícil escolher as mais significativas. Para cada pessoa, uma charge pode ter sido tocante e única. Expansão do olhar Em 2012, Dalcio resolveu se aventurar no mundo das obras infantis e lançou os livros Flubete e Não Brinque Com a Comida, ambos pela Companhia das Letras. De lá para cá tem se dedicado bastante em escrever para os pequenos. No ano passado fez uma parceria com a PlayKids Explorer e lançou material baseado em uma história criada por ele sobre uma vaquinha chamada Mu. O material fez tanto sucesso que está sendo vendido inclusive nos Estados Unidos. Neste ano, ele lança mais um livro infantil chamado ‘A’, pela editora Saber e Ler. Com um talento e uma imaginação que não dão trégua, ele e sua esposa Luciene (sua grande musa inspiradora) participaram das últimas feiras do livro de Bolonha, na Itália, e de Londres. Trouxeram de lá quase 15 quilos de livros. “Voltei inspirado com tantas ilustrações e textos maravilhosos que vi. Novas paisagens, arquitetura, cultura e pessoas diferentes sempre me inspiram. Comecei com o livro do Ziraldo embaixo do braço e hoje tenho uma biblioteca enorme que não consigo mais carregar da mesma forma, mas já faz parte de quem eu sou, me inspira, me toca e me transforma”, conclui

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