Teatro municipal ( Carlos Sousa Ramos / AAN e reproduções)
Foto: Carlos Sousa Ramos / AAN e reproduções Giovanni Galvão, presidente da Associação Reconvivência, e Eugênio José Alati, representante do Departamento de História: documentos levantados pelo grupo provam que teatro corria risco de desabar As imagens do prédio em ruínas habitam há décadas o imaginário popular. Para as gerações que se sucederam, a controversa demolição do Teatro Municipal, em setembro de 1965, foi o maior crime contra a história cultural da cidade. E o prefeito da época, Ruy Hellmeister Novaes, nunca foi perdoado. O cidadão, que estava em seu segundo mandato no Executivo, carregou para o resto da vida a reprovação de muita gente por ter mandado para o chão um edifício belíssimo, símbolo maior de uma Campinas rica, culta e elegante. Foto: Divulgação Fachada do Teatro Municipal... Hoje, passados 50 anos, um grupo formado por historiadores e agentes culturais inaugura uma campanha com o objetivo de resgatar a memória do ex-prefeito que, na visão deles, é vítima de uma injustiça histórica. A Associação Reconvivência nasceu há três anos, para promover um debate público e fiscalizar ações culturais da Administração. Seu presidente, Giovanni Galvão, conta que o grupo se ocupou de fazer um levantamento detalhado da documentação da época. Nos arquivos do Museu da Imagem e do Som (MIS), foram coletados depoimentos e cópias de laudos técnicos que concluíram, naquele tempo, que o teatro corria mesmo risco de desabar. O prédio não tinha deficiências estruturais que pudessem ser sanadas com reformas pontuais. Foto: Carlos Sousa Ramos / AAN e reproduções Teatro Municipal sendo demolido, em setembro de 1965, durante o segundo mandato do prefeito Ruy Novaes Na opinião de Galvão, os campineiros tinham, sim, toda a liberdade para questionar as perícias. No entanto, o prefeito, simplesmente, tomou uma decisão responsável, alertado pelo que estava disposto nos laudos. A tragédia do Cine Rink, 15 anos antes (o teto desabou durante uma matinê e matou 25 pessoas, a maioria crianças), certamente, colaborou para que Novaes decidisse pela demolição do teatro. “O prefeito não podia correr risco e desobedecer as orientações técnicas”, fala. Para Galvão, ainda que a demolição tenha sido polêmica (e continue sendo), o episódio de maneira alguma pode manchar a história do político à frente da Prefeitura. No primeiro mandato (1956-1959), Novaes executou o plano de melhoramentos urbanos, alargando avenidas do Centro; ampliou e pavimentou as estradas que davam acesso a Sousas e Paulínia; e disponibilizou o terreno público para a construção do Aeroporto Internacional de Viracopos. No segundo (1964-1969), instalou a Companhia de Habitação Popular (Cohab), que lançou empreendimentos gigantescos (Vila Rica, 31 de Março, Castelo Branco), e eliminou cortiços da região central. O comerciante Eugênio José Alati, vice-prefeito e secretário de Educação no governo Orestes Quércia, representa o Departamento de História da Associação Reconvivência. E faz questão de ressaltar ações sociais preciosas do segundo governo de Novaes. “Ele inaugurou 13 escolas-parque de período integral. Havia salas equipadas, piscina, campos de futebol. Era um modelo inédito, eficiente. O governo seguinte, do qual fiz parte, transformou sete delas em centros comunitários, frequentados pelas famílias aos sábados e domingos. Com o tempo, as escolas foram fechadas. Pura oposição política a uma ideia genial”. Novaes, afirma Alati, também foi responsável por uma estratégia revolucionária de administração pública. Ele se aproximou das sociedades de bairro e transformou o povo em consultor para projetos públicos executados. “As camadas populares mais humildes passaram a ter voz direta no governo. Ruy nem precisava de base de apoio entre os vereadores. Ele tinha o respaldo das bases”, lembra. Com a documentação pesquisada em mãos, a associação vai sugerir à Câmara e à Prefeitura que Ruy Novaes receba uma homenagem digna. Os agentes vão pedir que o ex-prefeito vire denominação do Palácio dos Jequitibás, sede da Prefeitura que, por sinal, foi planejada e começou a ser construída no governo dele. “Ruy merece até um memorial. As novas gerações precisam aprender sobre a vida de cidadãos importantíssimos para a história da cidade”, comenta Alati. Foto: Divulgação Ruy Novaes O campineiro Ruy Novaes nasceu em 1924. Depois de sair da Prefeitura, ele se dedicou exclusivamente ao ramo agrícola. Voltou a concorrer ao Executivo em 1974, mas foi derrotado por Lauro Péricles Gonçalves e deixou a política de vez. Em 1975, participou de um programa estadual para fomento ao cultivo de seringueiras no Planalto Paulista. Morreu aos 75 anos, em março de 2000, depois de alguns anos com a saúde abalada devido a um derrame cerebral. SAIBA MAIS Interessados em obter informações sobre os projetos da Associação Reconvivência podem entrar em contato por meio dos e-mails [email protected] e [email protected].