Os 16 milhões de são-paulinos e os 30 milhões de corintianos conseguiram levar 21 mil torcedores ao Morumbi, estádio que fica na maior cidade da América Latina. Quem tem a maior torcida do Brasil é a mentira, pelo visto. E a maior mentira é que o Brasil não é a terra do futebol, como muitos ufanistas idiotas dizem por aí: cerca de 21% da população acima dos 16 anos não gosta de futebol, segundo uma pesquisa realizada pela Pluri Atochos — de quem nunca ouvi falar, devo dizer, mas que até o momento não foi contestada por nenhum clube ou outro instituto de pesquisa, nem mesmo pelo Flamengo que, segundo a dita cuja, tem exatos 27.677.126 torcedores.
Milhões de brasileiros têm pelo menos dois times: o de coração e o de grandes conquistas — visto que ninguém gosta de ficar atrás no placar da vida. Na parte que me toca, torço para o Palmeirinhas de São João da Boa Vista, pelo River Plate, Vasco da Gama, por um time russo e pela Seleção Peruana. São times que possuem uma faixa diagonal na camisa e para mim é a Ponte Preta entrando em campo. Tenho muitas camisas e um só time: a Ponte Preta.
Ponte-pretano só tem um time. E conheço muitos corintianos que, ora veja, torcem para o Flamengo no Rio de Janeiro, pelo Atlético Mineiro em Minas, pelo Grêmio no Rio Grande do Sul, sem contar os milhões de torcedores nordestinos que dividem seus corações entre o time da sua cidade com equipes cariocas, paulistas e mineiras. Torcedor é um hipócrita por natureza, um não amante de seu time, alguém que sempre pensa em ficar na crista da onda, perdeu aqui, o outro ganhou ali e ele segue feliz, um corneado esportivo em suma.
A Ponte Preta entra em campo e fico feliz apenas por isso. Aliás, fico ainda mais feliz quando vejo as arquibancadas e os muros resistindo ao tempo das cobiças mais vis, de uma gente que não respeita a memória de velhos torcedores que juntaram seus suores à argamassa que ainda hoje mantém seus tijolos unidos, coesos, como a dar um exemplo de como manter a paixão ponte-pretana dentro de um estádio.
Somos uma paixão e não nos contamos como torcedores. Somos um e ao mesmo tempo milhares de nós mesmos, apenas torcedores de um time que não nos comove por ser um dos mais velhos, mas pela capacidade de se renovar a cada partida, de nos cativar pela sua vontade de seguir em frente, de superar e perdoar os erros de quem a vê como uma ponte para ganhar alguns milionários trocados.
Cada um que cuide do que lhe agrada. Eu cuido da minha Nega Véia. E é bom que saibam todos que cada torcedor ponte-pretano é feito de trilhões de átomos. Somos sempre um, mas sempre seremos orgulhosos disso.