JOGO RÁPIDO

A glória de uns e a obrigação de todos

Coluna publicada na edição de 22/2/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
22/02/2018 às 00:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 14:09

Roger Federer não é “apenas” um dos melhores tenistas da história. O suíço é uma lenda do esporte mundial. Na semana passada, conquistou o Torneio de Roterdã e voltou a ser o número 1 do ranking da ATP. Aos 36 anos e 170 dias, superou Andre Agassi (33 anos) e se transformou no jogador mais velho da história a ocupar o posto. A coluna seria pequena para registrar todos os recordes, vitórias, títulos e feitos extraordinários de sua carreira. Mas no mesmo jogo em que alcançou um feito tão especial e inédito na história da modalidade, Roger Federer se destacou por uma outra atitude. Uma atitude capaz de fazer com que ele não seja lembrado para sempre “apenas” como um grande campeão. Federer entrou em quadra para disputar uma vaga na semifinal com Robin Haase, tenista que ocupava a 42ª posição do ranking e jogava em casa. Se vencesse, o suíço voltaria a ser o melhor do mundo depois de cinco anos e três meses. Nenhum tenista conseguiu recuperar o posto depois de tanto tempo, o que certamente aumentou a ansiedade de Federer, apesar de toda sua experiência. A vitória por 2 a 1 em 1h18 não foi tão fácil como as parciais de 6/1 e 6/1 nos sets finais podem sugerir. O holandês pressionou o favorito ao vencer o primeiro set por 6/4. No segundo game do último set, Roger Federer sacou bem e conseguiu um ace. Apesar dos aplausos do público e do silêncio dos árbitros — nenhum cantou bola fora —, Federer se preparou para executar o segundo serviço. O suíço então foi interrompido por Haase, que gritou: “Roger, ninguém marcou fora.” Sem perder a concentração, o número 1 avisou o adversário: “Foi fora”. E em seguida executou o segundo saque, enquanto o público se divertia e o árbitro principal corrigia sua marcação. Meu filho Moises tem 12 anos, gosta muito de praticar esportes (tênis, inclusive), mas não é como o pai, que adora ver qualquer modalidade na TV. Mesmo assim, eu o chamei para mostrar um vídeo de Federer x Haase. Não falei que o suíço voltou a ser o número 1 do mundo. Não falei que depois ele foi campeão do ATP 500 de Roterdã. Mostrei para o meu filho apenas o que Federer fez em um dos seus saques no segundo game do terceiro set de um jogo tão importante de sua carreira. A glória de vencer quase sempre e de estar entre os melhores do mundo é reservada a poucos gênios do esporte. A obrigação de ser honesto é de todos nós.

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