MOACYR CASTRO

A emenda

13/10/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 02:28

Momento digno do rei da gafe, eu, primeiro e único. O extinto, branco ou seco, “Jornal da Tarde” saiu numa segunda-feira com reportagem perfeita e incompleta sobre o clássico São Paulo X Palmeiras, no Morumbi. Entrevistaram do porteiro à locutora que anunciava arrecadação, tamanho do público e troca de jogadores. Falaram vizinhos do estádio acerca das agruras de viver em meio à bagunça de um grande jogo. Não faltaram depoimentos de pipoqueiros, que também vendem biscoito ‘salgadinho doce’ e amendoim, com o nome de “motor de arranque”. Saíram fotos da coruja na forquilha da trave com o travessão e do quero-quero, sempre nem aí para o jogo. Descrição da partida, a nota de cada jogador, ficha técnica, nomes do juiz e bandeirinhas – tudo. Mas não saiu o mais importante: quanto foi o jogo? Sobrou para este locutor que vos escreve, que chegava às seis da manhã à redação. Fui logo bombardeado por telefonemas de leitores indignados. Incrível é que todos sabiam quanto foi o jogo, mas queriam ver o placar escrito no jornal. Não adiantava dizer que eu era d’O Estadão e, àquela hora, não havia ninguém no “Jornal da Tarde”, posto que era ‘da tarde’.(Leitor é assim: você faz um jornal primoroso e alguém reclama que não saiu o horóscopo. Outro destila indignação com a foto do papa cochilando na primeira página. Para bom católico, o papa é infalível e ‘indormível’.)Já fui até a cidade de Panorama, fundada pelo campineiro Augusto Nadalutti, lá nas barrancas do Rio Paraná, atrás de um empresário que era vizinho da minha mãe, em Campinas.Em Águas de São Pedro, saí feliz com uma reportagem exclusiva do grande hotel cercado por seguranças do Planalto e do Serviço Secreto de Israel, para proteger judeus ali reunidos a celebrar a passagem do ano novo judaico. Quase chegando a Campinas, me dei conta de que esquecera todas as anotações na mesa do prefeito. É certo que Alberto Neto, o notável locutor da Rádio Difusora de Camanducaia, foi ao Maracanã transmitir um jogo que era no Morumbi, na maravilhosa criação do Odair Batista. Mas isso não justifica eu ter ido ao “Brinco de Ouro” ser repórter volante de Guarani X Juventus e, ao entrevistar Hélio Gigliori, chamá-lo de Ladeira. A emenda foi pior do que o soneto: -- Então, quem é você? -- Edson Arantes do Nascimento! Daí aquele mundo de gargalhada da torcida, que ouviu tudo nos radinhos de pilha. Para não perder a majestade das gafes, domingo passado conversamos aqui sobre aquele que deve ter sido o primeiro filme rodado em Campinas, em outubro de 1924. Seu nome é “Alma gentil”. Tudo porque aquela santa que mora aqui em casa não leu a crônica antes de eu mandá-la (a crônica) para o jornal. Foi assim com um caderno especial sobre a situação da agricultura. Em vez de mostrar as provas a ela antes de rodar, levei o produto pronto. Ela fez aquela cara de ‘ele não toma jeito’ e murmurou: “Por que esse pé de soja está de ponta cabeça na capa?”Pregado no poste: “Como dizia o ‘Pasquim’, ‘Veja errou’. E o São Paulo ganhou: 2 x 1”

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