opinião

A dualidade de poder na Venezuela

Reinaldo Dias
29/01/2019 às 07:23.
Atualizado em 05/04/2022 às 10:45

As manifestações do povo venezuelano no dia 23 de janeiro foram grandiosas. Mostraram o cansaço da população com o regime de Nicolás Maduro. Foram momentos decisivos de encaminhamento para uma possível saída para a crise venezuelana reconhecidos pela comunidade internacional que manifestou o respaldo à oposição liderada por Juan Guaidó. Diversos governos expressaram apoio ao jovem deputado da Assembleia Nacional, entre os quais Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Peru e Paraguai. E não cessam as adesões de outros países como a Dinamarca, Albânia e a Geórgia. O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou o apoio da Europa à restauração da democracia na Venezuela depois da eleição ilegítima de Nicolás Maduro em maio de 2018, e elogiou a coragem de centenas de milhares de venezuelanos que clamam por sua liberdade. Guaidó fez o juramento como Presidente encarregado da Venezuela diante de uma multidão de manifestantes em Caracas e expressou que seu objetivo é pôr um fim à usurpação de poder por Nicolás Maduro, inaugurar um governo de transição e convocar eleições livres. Ao oferecer a Guaidó seu reconhecimento explícito, Estados Unidos e vários países do Grupo de Lima junto com a Organização dos Estados Americanos (OEA) enviaram uma inequívoca mensagem de apoio à rebelião, demostrando um inédito ativismo contra o governo de Nicolás Maduro. Os Estados Unidos nunca foram tão categóricos em relação à Venezuela como agora. Por quase duas décadas tiveram relações regulares com o país caribenho do qual importam petróleo, fizeram condenações genéricas às violações de direitos humanos e civis, mas nunca foram tão enfáticos como agora lançando-se abertamente contra o regime. O Grupo de Lima limitou-se em manter sua coerência manifestando-se duramente contra Maduro mas, desta vez, apoiou uma alternativa de poder. Essas nações não têm outra alternativa pois sofrem as consequências sociais, econômicas e políticas do êxodo venezuelano que fogem da crise socioeconômica de seu país. A dúvida que ainda paira é qual a saída que as forças armadas darão para a crise. Até o momento elas encontram-se totalmente alinhadas ao ditador, mas já surgem sinais de insatisfação especialmente na Guarda Nacional. Na realidade, na Venezuela hoje não há dois presidentes, há duas lideranças bastante distintas. Uma que arroga para si o título de presidente da República, amparado em um processo eleitoral fraudulento que ocorreu no dia 20 de maio do ano passado. Outro que foi nomeado pelo único poder democrático existente na Venezuela, a Assembleia Nacional, que emergiu do voto popular em dezembro de 2015 e que foi constantemente sabotada pela ditadura chavista. O apoio da comunidade internacional a Juan Guaidó é essencial para mantê-lo em liberdade. Serve de alerta para que não ocorra com ele o mesmo que aconteceu com alguns de seus antecessores que também lutaram para restaurar a democracia no país. Leopoldo López, está preso, Júlio Borges e Antônio Ledezma vivem no exílio. Esses são alguns dentre vários outros líderes oposicionistas perseguidos pelo regime ditatorial. Deve-se apoiá-lo não somente por uma questão de princípios, mas porque a deterioração da situação na Venezuela atinge não somente o país, mas várias nações latino-americanas que tem acolhido parcelas cada vez maiores de imigrantes venezuelanos. Um primeiro balanço dos últimos dias mostra que a oposição venezuelana finalmente está unida e demonstra coesão sob a liderança de Juan Guaidó. A desunião da oposição facilitou ao regime reprimir as lideranças que se opunham a ele, como ocorreu com Leopoldo López que ainda está preso. A atual situação de dualidade de poder na Venezuela chegou a esse ponto pela irredutível resistência de Nicolás Maduro em deixar o poder. Não contando com o apoio de mais de 80% da população mantém-se respaldado pelas forças armadas e seu exército de milicianos-grupos paramilitares violentos que reprimem a população. O posicionamento de Juan Guaidó serve de parâmetro para avaliar em toda a América Latina quem continua apoiando o chavismo cegamente, sem nenhuma visão crítica sobre a atual situação daquele que foi um dos mais prósperos países latino-americanos, com as maiores reservas mundiais de petróleo. Um rico país que chegou a esse ponto de degeneração devido a incompetência, má gestão e corrupção do regime bolivariano. Que sirva de lição àqueles que ainda apoiam o regime ditatorial venezuelano.

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