Empatia é uma palavra fora de moda nos dias de hoje. Em um mundo tão corrido, competitivo e nem sempre honesto, está cada vez mais difícil ter capacidade para lidar com os próprios problemas. Sentir o que se passa com outra pessoa é cada vez mais raro. Mal temos tempo para olhar para os problemas do nosso pequeno mundo. Quando acontece uma tragédia como a de ontem, no Ninho do Urubu, a empatia é imediata. Não conhecia Arthur, Athila, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge, Pablo, Rykelmo, Samuel e Vitor. Mas chorei ao ver as fotos de cada um deles. Chorei ao ver que tinham 14 ou 15 anos. Crianças um pouco mais velhas do que o meu filho, que transborda energia. Crianças que sonhavam com uma carreira de sucesso no futebol. Esse é o sonho de milhões de garotos no Brasil e no mundo. Poucos chegam lá. E os que conseguem treinar na base do Flamengo já estão perto disso. Como Lucas Paquetá e Vinícius Júnior, só para citar duas promessas que saíram há pouco do Ninho. Os sonhos foram interrompidos de forma brusca. A dor que sinto é a tal da empatia. Sofro pelos filhos que não são meus, pelos atletas que não conheci e por famílias com as quais nunca tive contato. E essa dor, que com certeza compartilho com muitos de vocês, leitores, nos faz enxergar que alguns de nossos enormes problemas ficaram minúsculos na triste manhã desta sexta-feira. Talvez não seja hora para falar sobre os responsáveis pela tragédia. Mas rezo para que a empatia não fique restrita a torcedores. Arthur, Athila, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge, Pablo, Rykelmo, Samuel e Vitor eram crianças. Muito talentosas e especiais, mas eram crianças. Poucos clubes poderiam oferecer a elas o que Flamengo ofereceu. Mas está claro que, mesmo em um CT de R$ 30 milhões, o clube falhou com seus pequenos craques. Puxadinho? Sem seguranças? Sem alarme de incêndio? Estamos todos tristes demais para pensar nisso, mas essa tragédia não pode ser ignorada. Desejo, em nome daqueles que hoje sentem uma dor que não consigo imaginar, que os alojamentos dos clubes sejam revistos. Que passem a ter todos os cuidados que crianças necessitam. O futebol é cruel por natureza com seus jovens atletas. Ser reprovado em uma peneira machuca. Ver que o colega que não joga tão bem é escalado no seu lugar porque o empresário é “parceiro” do treinador é revoltante. Ser assediado por pedófilos é monstruoso. Esses problemas afetam a vida de muitos garotos. Infelizmente, fazem parte do inóspito caminho para a glória. Mas o nosso futebol precisa agir para que nunca mais os sonhos de dez crianças sejam destruídos de forma tão estúpida. As autoridades devem investigar esse caso. E a CBF tem a obrigação de criar um protocolo para alojamentos de base. Jovens atletas, por melhor que sejam, precisam ser cuidados como crianças que são. Descansem em paz, meninos.