A dona Lúcia de Dilma
Há quem diga que o País vai melhorar quando brasileiros derem à política a mesma importância que dão ao futebol. Este domingo talvez seja um passo nessa direção. Em virtude de manifestações organizadas em todo o Brasil para protestar contra o governo Dilma, é certo que o futebol vai perder tanto neste domingo como nesta segunda-feira um pouco de seu tradicional espaço nas conversas, nas mensagens, nos posts. Nas próximas horas, milhões de brasileiros vão falar mais de política do que de costume. Isso é positivo, mas ainda estamos longe do ponto ideal. Primeiro porque muitos brasileiros torcem cegamente por seus partidos e políticos exatamente como fazem no futebol. E muitos partidos e políticos se apropriam de desculpas esfarrapadas para justificar fracassos, como acontece no esporte. Quando o Corinthians ficou 23 anos sem ser campeão e o Palmeiras caiu duas vezes no Brasileiro, seus torcedores não mudaram de time. No futebol, é assim que se faz. Na política é, ou ao menos deveria ser, diferente. Se o seu candidato é péssimo gestor, se foi condenado e preso por corrupção ou se é conivente com aliados que desviam bilhões de reais dos cofres públicos, você não deve defendê-lo até o fim. Seu partido não é seu time. Esse é um dos problemas do eleitor que vê política como futebol. Infelizmente, nossos políticos também levam ao palanque péssimos hábitos do mundo da bola. Um deles é tentar esconder os próprios e notórios erros com desculpas absurdas. Logo depois de apanhar de 7 a 1 da Alemanha na Copa, Parreira chocou a imprensa e milhões de torcedores ao ler a carta da Dona Lúcia, uma torcedora que elogiou o trabalho da Seleção. Virou, por motivos óbvios, alvo de chacotas. E foi ainda mais criticado. Dilma age como Parreira. A inflação cresce, a economia está em crise, o País não produz, a Petrobras está derretendo, o dólar dispara e a presidente e seus prestativos defensores criticam FHC, dizem que o mundo atravessa a maior crise econômica desde 1929 (essa foi ótima) e descaradamente jogam uns brasileiros contra os outros. Afirmar que quem vai às ruas neste domingo está incomodado com a melhora da vida dos pobres é uma desculpa muito mais ridícula do que a cartinha da Dona Lúcia. Para começo de conversa, inflação alta, desemprego e estagnação da economia são péssimos para todos brasileiros, de todas as classes. Os bilhões (isso mesmo, bilhões) de reais desviados da Petrobras também são de todos os brasileiros. Motivos não faltam para que os brasileiros saiam às ruas neste domingo. O País vive um momento crítico e vai piorar enquanto o Governo não abandonar essa postura de nós contra eles e começar a governar de verdade. Inventar mentiras e rotular os críticos são medidas inúteis. A crise está aí e afeta a todos. A roubalheira está aí e afeta a todos. É por um País melhor para todos brasileiros que milhões de pessoas vão deixar o futebol em segundo plano neste domingo.
