Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove, palestrante e conferencista (Divulgação)
Esta década tem de ser aquela em que a humanidade se convença de que é mais do que urgente restaurar o que se destruiu no ambiente. Contra o agravamento da crise ecológica, a ciência fez chegar ao planeta um apelo muito direto e contundente: é a chance de fazer reviver o mundo natural que dá suporte a toda espécie de vida na Terra. Parece que uma década é um tempo longo demais. Viu-se em 2020 a perda de quase duzentos mil brasileiros, só dentre os ceifados pela Covid-19. Muitos outros perderam a vida. E isso continuará a acontecer. Mas os cientistas advertem que os próximos dez anos serão fundamentais para a luta contra as mudanças climáticas e para reverter a perda de milhões de espécies.
É preciso que todos se conscientizem disso. O momento é o de parar e reverter a destruição e a degradação de bilhões de hectares de ecossistemas. Não são apenas as florestas que estão sendo exterminadas. O mau uso da lavoura empobrece o solo. Há muita área ociosa que precisa merecer cuidados para continuar a oferecer o que a natureza nos dá gratuitamente.
O movimento precisa envolver indivíduos e grupos. Há muitas organizações que já começaram. Os governos precisam ser conscientizados de que também titularizam deveres nessa cruzada. Todos eles. No Brasil, municípios, Estados-membros e União, são igualmente responsáveis pela conduta conforme com os postulados ambientais.
A população deve ser informada de que a restauração é boa para o planeta, mas também para as pessoas. A sustentabilidade é um conceito que veio para salvar a Terra. A natureza é generosa e pródiga. Basta investir um pouco e a devolução será à proporção de mil por um. Quem explora saudavelmente o agronegócio sabe disso.
As boas práticas precisam ser disseminadas. As crianças e jovens são mais sensíveis e se comovem com os estragos que o mau uso causa à Terra. A formação de lideranças ecológicas deve ser uma preocupação dos educadores e de todas as pessoas de boa vontade.
O consumo predatório acaba com a fauna, principalmente com a pesca irregular. Os estoques de peixe já faltam em inúmeros mares. É necessário criar consciência para um consumo sustentável e amigável com a Natureza-mãe. Simultaneamente, as escolas precisam investir em pesquisa. Há inúmeras espécies da riquíssima biodiversidade brasileira ainda desconhecidas. O Brasil pode receber imenso lucro se souber explorar as potencialidades daquilo que está disponível e poderá se tornar fonte de renda, tão necessária depois de décadas de multicrises.
No mundo sacrificado pelo desaparecimento dos empregos, a biodiversidade e a bioeconomia constituem um campo fértil para a juventude desenvolver atividades que substituam aquilo que a automação roubou aos humanos. Até grupos marginalizados podem se incorporar na economia formal, extraindo da natureza os incontáveis recursos de que ela dispõe, sem que tenham sido levados a sério até o momento.
O mais importante é a mudança cultural que essa década poderá propiciar. O ressurgimento da natureza violentada não é tarefa exclusiva de governo ou peritos no tema. Urge disseminar uma nova cultura, para mostrar que a tutela ecológica é vantajosa, prolonga a vida humana, faz cessar as ameaças de uma catástrofe universal e gera renda para todos.
Os mais experientes precisam ter na mente a constatação irrecusável: serão as novas gerações as mais impactadas pelas consequências da rápida destruição dos ecossistemas. O trabalho de hoje e de amanhã precisa ser sustentável e baseado numa economia circular. A educação para a restauração é sedutora e as crianças logo se apoderam dessa ideia.
Por último, não existe alternativa. Ou o mundo se converte, ou ele prosseguirá a existir nesta galáxia. Mas talvez não necessite da humanidade para isso.
Renato Nalini é desembargador, reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove, palestrante e conferencista