A organização partidária no Brasil vem de uma tentativa de agrupar as tendências ideológicas e as correntes políticas, tão diversas quanto os interesses regionais. Depois de um bipartidarismo irreal e imposto de cima para baixo durante o período da ditadura militar, o que se viu foi a criação de inúmeras siglas que servem apenas para atender propósitos cartoriais, permitir a exploração de nichos eleitorais e usufruir dos recursos disponibilizados por uma legislação esdrúxula e protecionista. Feita para financiar a formação e existência dos partidos, a lei abriu espaço para que oportunistas transformassem as siglas em entidades de aluguel, negociando apoios e coligações, além do tempo disponível no horário eleitoral, pago pelo bolso dos contribuintes.A recente tentativa de formar um novo partido para concorrer às eleições presidenciais do próximo ano colocou a ex-senadora Marina Silva em evidência, expondo a dificuldade de se construir uma legenda política, diante dos impasses burocráticos que se avolumam na proporção dos interesses. Também trouxe à discussão a conveniência ou não de se terem tantas siglas representativas (são incríveis 32 no Brasil), ainda que se reconheça que grande parte delas se prestam exclusivamente ao balcão de negociações espúrias.De toda forma, os partidos brasileiros, hoje, perderam muito de sua função aglutinadora de ideais. Não se encontram traços ideológicos ou de intenções, apenas funcionam como agremiações ( a maioria deles) de propósito eleitoral. Seus filiados entram e saem ao sabor das conveniências, buscando espaço político, ascendência ou mesmo uma legenda para candidatar-se. Agrava ainda a existência de acordos ou coligações oportunistas em época de eleição, que repercutem em níveis municipais, gerando situações de conflito. Por trás disso tudo, o mote do financiamento das campanhas.Na semana passada, encerrou-se o prazo para que os candidatos a candidato resolvessem seus destinos partidários. O que se viu foi uma corrida em busca de espaço e de renovação, sempre de olho na aritmética dos votos. Seria demais esperar que prevalecessem ideários e afinações com programas partidários, letra morta na Justiça Eleitoral.A ex-candidata a presidente Marina Silva caiu nos braços do PSB e cogita ser vice na chapa de Eduardo Campos. Por óbvio ninguém imaginaria que ela optaria por outra sigla menos à esquerda. Resta saber o quanto ela resistirá às imposições de uma política que se faz mais com números do que com ideias.