Quando Sílvio Santos dizia na televisão, “Vamos abrir as portas da esperança”, a vida podia mudar para alguém: seu desejo, por mais insólito que fosse, estava na iminência de ser atendido. Era só esperar, com coragem, que a famosa “porta” se abrisse, em seu favor. Depois, entrar por ela e ser feliz.Assim é na vida. Quando passamos por uma porta — entrando por ela ou dela saindo — muitas vezes, encontramos outra realidade à nossa espera: as portas da igreja quando se abrem para uma noiva caminhar em direção ao seu eleito, no dia do casamento; as portas que se fecham na saída da sinistra sala onde se realizou uma tomografia, cujo resultado pode mudar o rumo da nossa existência material; a porta principal da empresa, à nossa espera, onde, naquele dia, começamos o novo emprego, uma história que pode durar três meses... ou trinta anos. São tantas as portas que se abrem e nos levam a novos horizontes, às vezes sombrios, outras vezes resplandecentes e venturosos. Que elas se abrem, se abrem. Pode estar certo disso.Mas existem outras portas que precisam ser abertas, também com coragem e obstinação, para que se possa sair para uma mudança de comportamento, um acolhimento humanitário... uma esperança. Escancaram-se para nos levar a alguma coisa muito maior. Que portas são essas?São as portas a que se referiu o Papa Francisco, quando esteve no Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude: “Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas sair para procurar e encontrar”.Um importante documento foi redigido — e distribuído aos fieis à saída da missa dominical — pelo padre jornalista, Cônego Luiz Carlos F. Magalhães, pároco da Igreja Cristo Rei, em Campinas, “Paróquias ontem e hoje”. Ele ressalta, no seu texto, a necessidade de uma nova postura no dia a dia: “A paróquia está na berlinda”, assegura. “É uma estrutura arcaica e caduca. Este modelo está superado para a realidade de hoje. Vivemos numa sociedade urbano-industrial, marcada pelos fluxos e pela instabilidade. Existem novas concepções acerca do uso do tempo e do espaço. Ela precisa sair de seu modelo tradicional centralizada na figura do Padre”.Esse é o caminho apontado pelo Papa Francisco quando diz “não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho. Decididamente, pensemos num trabalho em direção à periferia, àqueles mais afastados, habitualmente não frequentadores da paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor”.Cônego Magalhães completa em seu documento que não se trata de destruir a atual concepção de paróquia, mas encontrar caminhos de novas formas de ocupação dos espaços na pregação do Evangelho. Ele expressa claramente a ideia papal de que não é mais admissível a estrutura tradicional, segura, cômoda, que provoca uma pastoral de pura conservação e manutenção, sem criatividade, numa atitude de espera: “os cristãos vão procurar a igreja para os sacramentos, enquanto os agentes ficam aguardando ‘em casa’”.Assim, no entender do líder religioso no Jardim Chapadão, é preciso “sair por essas portas” e reformular as estruturas, passando das paróquias centralizadoras para as Redes de Comunidades, criarem-se Conselhos, que deem estrutura e suporte para essa renovação, como Conselho Paroquial, de Assuntos Econômicos, de Pastoral Comunitária e um Conselho Missionário Paroquial. Será necessário setorizar a paróquia em bairros, quadras, quarteirões, condomínios, prédios. Enfim, criar oportunidades para que a comunidade reflita, por exemplo, quais os caminhos que devem ser usados para dialogar com os cristãos que somente buscam a igreja e o padre para receber os sacramentos.O documento do Cônego Magalhães é precioso quando lembra as palavras de Francisco, que encantou o Brasil: “É nas favelas, nas povoações, nas vilas que se precisa buscar e servir a Cristo. Devemos ir a eles como o sacerdote se aproxima do altar: com alegria. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão, a cultura do descartável. Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem das estrada”.As portas da igreja devem se abrir — com coragem mesmo — para irmos de encontro a essas prioridades, onde, certamente, estão pessoas... carregadas de esperanças. Como disse o Papa, “Quero que a Igreja vá para as ruas”.