A constatação de Jorge Jesus

O técnico Jorge Jesus foi muito criticado por ter afirmado em entrevistas recentes que o Flamengo está em outro patamar, muito acima de seus rivais do Rio de Janeiro. Jesus disse — com todas as letras — que considera o Carioca uma pré-temporada e lamentou não poder fazer mais do que três substituições nos jogos do estadual por serem compromissos oficiais. Não se discute que são declarações fortes, ruins para a já desgastada imagem dos estaduais. Mas é inegável que o treinador português apenas relatou fatos. Não se trata de uma opinião arrogante. Ele só fez uma constatação do enorme abismo que existe entre Flamengo e Fluminense, Vasco da Gama e Botafogo. Ninguém sabe dizer por quanto tempo essa diferença vai permanecer porque o modelo de gestão do futebol brasileiro permite mudanças drásticas e inesperadas. Vejam o caso do Cruzeiro: bicampeão da Copa do Brasil em 2017 e 2018, seguidas participações na Libertadores, elenco milionário, favorito ao título brasileiro e, de repente, devastado por uma crise sem precedentes em sua história, com rebaixamento à Série B, investigação policial e uma dívida monstruosa. Se nada parecido acontecer com o Flamengo, essa hegemonia vai durar um bom tempo. O primeiro jogo da final da Recopa Sul-Americana mostra como o Flamengo conta com um elenco realmente incomparável com a maioria dos times da América do Sul. O Independiente Del Valle começou melhor, favorecido pelos 2.850 metros de altitude de Quito. O time carioca não contou com Gabriel, artilheiro das últimas duas edições do Brasileirão. Ele cumpriu suspensão pela expulsão na final da Libertadores. O time da casa abriu o placar, mas Bruno Henrique, outra estrela da companhia, empatou no segundo tempo. No lance do gol, sofreu lesão grave e foi substituído por Pedro. Minutos depois, o reserva de luxo fez o segundo do time carioca. Beneficiado por duas decisões polêmicas do VAR, o Independiente chegou ao empate no final, mas no Rio de Janeiro dificilmente conseguirá impedir mais uma festa de título no Maracanã. Sem o fator altitude e, esperamos todos, com uma arbitragem tranquila, o Flamengo tem tudo para ser campeão da Recopa Sul-Americana pela primeira vez. A temporada de 2019 foi memorável na história do clube, principalmente depois da chegada de Jorge Jesus. Agora, ainda mais forte e com o técnico português bem ambientado à Gávea, o Flamengo tem tudo para mostrar, na prática, como é grande a distância entre seu patamar e o dos demais.