Página Dupla | Carlos Tadayuki

A cada mulher, uma indicação

Pílulas: prescrição do medicamento deve levar em conta desde a capacidade da paciente em lembrar de tomá-lo até seu histórico de saúde, considerando benefícios e contraindicações

Thaís Jorge
02/08/2015 às 08:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 17:53
"Os anticoncepcionais regularizam o ciclo menstrual, o que já é um grande benefício. Também causam uma menstruação programada e são a primeira linha de tratamento para cólica menstrual, além de diminuírem o volume de sangramento e, assim, evitarem anemia" (  Divulgação)

"Os anticoncepcionais regularizam o ciclo menstrual, o que já é um grande benefício. Também causam uma menstruação programada e são a primeira linha de tratamento para cólica menstrual, além de diminuírem o volume de sangramento e, assim, evitarem anemia" ( Divulgação)

  Regularização do ciclo menstrual, diminuição das cólicas típicas desse período e efeito contraceptivo fazem das pílulas anticoncepcionais importantes aliadas da mulher em várias situações ao longo da vida. Poucas pessoas, entretanto, se atentam para o fato de que a utilização indiscriminada desse tipo de medicamento pode trazer mais riscos do que vantagens. “A paciente deve passar por uma consulta preliminar, na qual o médico avaliará desde a capacidade dela de lembrar de tomar o remédio até seu histórico de saúde. A indicação precisa ser individualizada, porque nem sempre o que faz bem para uma pessoa tem o mesmo efeito em outra”, alerta o ginecologista do Hospital e Maternidade Celso Pierro, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Carlos Tadayuki. O especialista explica que existem, basicamente, dois tipos de pílulas: os combinados orais, à base de estrogênio e progesterona, os mais vendidos; e os que têm apenas progesterona na composição, administrados de forma contínua. Há indicações específicas para cada opção e contraindicações também. “Os medicamentos via oral, por exemplo, não podem ser utilizados por mulheres que fizeram cirurgia bariátrica ou que tenham úlcera ou gastrite, porque a absorção deles pelo organismo é menor. Nesses casos, muitas vezes, indicamos os anticoncepcionais injetáveis ou os adesivos”, comenta. De acordo com Tadayuki, em algumas situações é mandatório fazer pausas no uso da medicação. “É o caso de períodos pré-cirúrgicos. Muitas mulheres se esquecem de interromper o remédio no mínimo um mês antes das cirurgias e isso aumenta o risco de trombose”, exemplifica.Nesta conversa com a Metrópole, o médico esclarece algumas das principais dúvidas das mulheres a respeito do uso desses produtos.Metrópole – As pílulas anticoncepcionais comercializadas atualmente têm a mesma composição ou diferem quanto à fórmula? Carlos Tadayuki – As pílulas existem em dois tipos. Combinados orais são as que têm dois hormônios (estrogênio e progesterona). Mais utilizadas e vendidas no mercado, são aquelas que a mulher toma por um período e faz uma pausa para a menstruação. Os outros anticoncepcionais são apenas à base de progesterona, utilizados de forma contínua, sem pausa, e com indicações mais específicas. Esses últimos são boas alternativas para mulheres que têm anemia, cólica menstrual e contraindicação ao anticoncepcional combinado, que tem no estrogênio o principal vilão, responsável por índices, ainda que pequenos, de trombose e acidente vascular cerebral, por exemplo.Como avaliar qual pílula é a mais indicada para cada paciente? A indicação deve ser individualizada. A paciente tem de passar por uma consulta preliminar, na qual se avalia desde a capacidade dela em lembrar de tomar o remédio até seu histórico de saúde. Para mulheres que fizeram cirurgia bariátrica não se pode prescrever o combinado oral, porque a absorção é baixa. As que têm úlcera e gastrite também não podem usar essa opção. Então, às vezes, recomendamos o injetável ou os adesivos. A versão que leva apenas progesterona é boa, mas dá muito escape e pode resultar em retenção de líquido. Quanto à contracepção, não existe método 100%, mas a eficácia das pílulas é bastante boa. Quando o assunto é a quantidade de hormônio presente na pílula, existe um nível que seja considerado ideal? O ideal é a menor dose possível, desde que a paciente se adapte a ela. Temos pílulas de 15, 20, 30 e 50 microgramas. Falando em termos de estrogênio, as de 15 são as de menor dose atualmente no mercado. Mas, independentemente do peso ou da idade da mulher, começamos com a menor dose possível. O único problema dessas é que, normalmente, dão muito escape, que é aquele sangramento leve no meio da tabela. Então, vamos adaptando até que isso não aconteça mais.Quais são os principais benefícios desse tipo de medicamento para o organismo feminino? Os anticoncepcionais regularizam o ciclo menstrual, o que já é um grande benefício. Também causam uma menstruação programada e são a primeira linha de tratamento para cólica menstrual, além de diminuírem o volume de sangramento e, assim, evitarem anemia. A maioria tem efeito anti-hormônio masculino, e a mulher que toma apresenta melhora na pele, na queda de cabelo etc. A pílula ainda protege contra o câncer de ovário e de cistos.A automedicação é um problema também no caso das pílulas? Quais prejuízos essa prática pode trazer? Não vejo muita automedicação no caso das pílulas, mas existe, sim. Nesse caso, como não tem todas as orientações, a mulher pode tomar errado e colocar sua saúde em risco, pois existem as contraindicações. Esses combinados não podem, por exemplo, ser usados por mulheres que têm enxaqueca clássica, doenças hepáticas, tumor de mama ou antecedentes desse tipo de câncer. Outra coisa importante: mulher acima dos 35 anos e tabagista protagoniza uma contraindicação quase que absoluta para os combinados. Há algum risco de saúde para mulheres que fazem uso ininterrupto de pílulas por muito tempo? Tem o risco inerente ao remédio. No caso dos combinados, o risco é a trombose. É baixo, menos de 3%, mas existe.E existem situações nas quais seja recomendável fazer uma pausa na utilização do medicamento? Sim, em períodos pré-operatórios, porque os anticoncepcionais alteram a coagulação sanguínea. Muitos casos de morte pós-cirúrgica vêm da ocorrência de trombose. Os riscos de apresentar essa complicação quando se toma anticoncepcional e não se faz a pausa de um mês antes do procedimento duplica. 

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