TADEU FERNANDES

A busca por pediatras

Tadeu Fernandes
igpaulista@rac.com.br
03/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:46

Nunca a pediatria esteve tão presente na mídia como atualmente. Notícias de prontos-socorros lotados, fila de espera de horas, postos de saúde sem pediatra, consultórios particulares com agendas lotadas, horários marcados somente para o próximo mês, e na rede pública uma consulta de rotina, nem pensar! O que será que esta acontecendo nos últimos anos que tornou a busca por pediatras tão frenética?

A pediatria emergiu, desde a época de Hipócrates, há 2,5 mil anos, paulatinamente, nas mais diversas regiões do mundo, com os cuidados especializados que a saúde da infância e da adolescência passou a requerer.

O organismo infantil reage de forma diferente às doenças. A dose das medicações é diferente para crianças, não é um adulto em miniatura como muitos pensam. Na maior parte das vezes, a criança não diz o que sente e é necessária uma investigação meticulosa, um interrogatório da história pregressa da doença, conhecer o histórico familiar de doenças, enfim, requer tempo de consulta.

O profissional que atua como detetive das doenças desses pequenos seres é o “pediatra”. A ação do pediatra é essencial aos sistemas de saúde, e um dos grandes desafios da área médica hoje é conseguir garantir o direito que a criança e o adolescente têm ao atendimento médico, compreendido como assistência, prevenção em saúde e promoção de qualidade de vida.

O Programa de Puericultura objetiva acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança, sua cobertura vacinal, estimular a prática do aleitamento materno, orientar a implantação da alimentação complementar e prevenir as desordens que mais afetam as crianças durante os primeiros anos de vida.

Uma consulta de puericultura é demorada, detalhada, interativa e visa prevenir doenças, bem diferente da consulta de pronto-socorro na qual o objetivo é resolver a queixa principal.

Infelizmente, os pais atarefados no dia a dia de trabalho estão sem tempo para fazer a rotina ou puericultura, e diante de uma febre, uma tosse, uns espirros, um episódio de diarreia ou até uma simples assadura na região das fraldas, “correm”, é assim mesmo o termo utilizado pelos pais, correm para o pronto-socorro, criando horários de picos após as 18 horas e cobram uma solução rápida, porque no dia seguinte não se pode perder dia de trabalho e a criança, o dia de creche.

Resultado! Antibióticos sem necessidade, hipermedicação com interações medicamentosas às vezes perigosas, exames desnecessários, radiografias sem nenhuma utilidade, enfim, o local para urgências e emergências está se transformando em um grande ambulatório com baixíssima resolubilidade.

E a consulta de rotina? Os exames de rotina? A puericultura?

Sem tempo!

Os consultórios estão se transformando em miniprontos-socorros, repetem-se as consultas de urgências, e nada de rotina, nada de prevenção, sem tempo para puericultura.

Serviços públicos e convênios não diferenciam consultórios de serviços de urgências, fato que estimula a migração de médicos da rotina, para a resolução de consultas eventuais, de novo com baixa resolubilidade.

Não faltam pediatras em um universo de 388 mil médicos em atividade no Brasil, 208 mil são especialistas e, destes, cerca de 30 mil são pediatras, ou seja, 14% dos médicos do Brasil são pediatras. A pediatria é a área com maior número de profissionais no mercado.

O que está acontecendo é um imediatismo insano para consultar o problema de hoje, deixando um vão para prevenir os problemas de amanhã, resultando em filas, brigas, congestionamento, esperas em horários esdrúxulos, na folga, no final do expediente, no intervalo, na sobra, enfim... Tudo vai melhorar quando a criança se tornar o centro das atenções, não um problema a se resolver no final do dia.

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