CARLO CARCANI

A bola pune

Carlo Carcani
06/08/2015 às 22:03.
Atualizado em 28/04/2022 às 18:17

Como era de se esperar, a Conmebol foi boazinha com o Boca Juniors. O clube argentino deveria receber uma punição severa e exemplar depois que seus torcedores jogaram gás no túnel do River Plate no intervalo do clássico pelas oitavas de final da Libertadores. Intoxicados, os jogadores do rival não tiveram condições de prosseguir no jogo. E ficaram mais de duas horas no gramado, já que outros torcedores do Boca esperaram todo esse tempo só para atirar objetos no gramado quando os adversários estivessem saindo. A Conmebol levou dois dias para decretar a derrota do Boca — deveria ter feito isso imediatamente — e aplicou uma punição branda, de quatro jogos com portões fechados. Fica claro que a entidade que organiza a Libertadores não se importou com o fato de que vândalos impediram a realização do segundo tempo de um superclássico decisivo. A lamentável agressão, porém, não passou em branco. Pelo menos não para o futebol. A bola, aquela que pune, tratou de dar ao Boca Juniors o pior castigo possível dentro do campo esportivo. O jogo que foi interrompido por vândalos estava empatado. O Boca precisava de um gol em casa para avançar às quartas de final. O Boca que teve a melhor campanha da primeira fase, com seis vitórias em seis jogos. Dezenove gols marcados e apenas dois sofridos. O River passou apertado, com a pior campanha entre os 16 classificados. Ganhou um jogo, marcou oito gols e sofreu sete. Impossível saber o que teria acontecido no segundo tempo que não existiu, mas é indiscutível que existia um favorito claro, vestido de azul e amarelo. Depois da vergonhosa agressão no túnel, tudo mudou. O Boca, favorito ao título, foi eliminado. O River, desacreditado, ganhou confiança. Passou a jogar com uma gana ainda maior. Eliminou o Cruzeiro, o Guaraní e bateu o Tigres na final. Depois de cinco anos sem sequer participar da Libertadores, o River Plate voltou a conquistar a América. Mais de 67 mil pessoas fizeram uma festa enorme no Monumental de Nuñez. Celebraram, debaixo de chuva, a conquista do título mais importante do continente. Pintaram Buenos Aires de vermelho e branco. Que castigo maior poderia ser dado ao criminoso que atacou os jogadores do River do que transformá-lo em responsável pela conquista de um grande título do maior rival? A Conmebol é responsável pelo péssimo comportamento de atletas e torcedores na Libertadores. É uma entidade que não tem o futebol como prioridade. Mas a bola... Ah, essa ama o futebol e faz tudo por ele.

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