ANTONIO CONTENTE

A beleza que brota do chão

Antonio Contente
04/05/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 14:48

É no chão das calçadas que deixamos marcas de muitos dos nossos passos. Mas é também nos vãos, pequenas fendas e até buracos existentes em caminhos tão amplos, que costumam brotar, plantados por ninguém, vegetais que abrigam flores absolutamente lindas. Isso ocorre mais nos bairros, e nem estou falando em periferias. Tufos com pequenos galhos balançam ao vento diante dos nossos olhos, a exibir pétalas róseas, brancas, vermelhas ou beges. É como se os deuses, em momento de singela euforia, nos dessem doses extras de ternura e encantamento.Para melhor calçar o tom desta crônica, repito algo que narrei em texto anterior, no final do ano passado. Falei então sobre longa calçada que dobra uma esquina que pega quase um quarteirão da Rua Maria da Encarnação Duarte e outro, inteiro, da Nova Granada. O espaço, ao longo do vasto piso, não possui residência nenhuma, é tomado apenas pelos muros que resguardam imenso terreno que expõe, no que é possível dele ver, farto capinzal de viçoso aspecto; aparentemente, com utilidade restrita apenas aos coleópteros, batráquios, lagartixas e até répteis poiquilotérmicos que nele provavelmente se abrigam. Com as brisas a balançar hastes sobrevoadas pelos passarinhos do bairro. Pois bem, nas duas citadas calçadas sem casas quase ninguém passa. Nessas condições, vicejam nelas os capins e, entre eles, os arbustos que dão uma florzinha bege de inegável encanto. Porém, o que acontece, é que uma vez ou outra os encarregados da limpeza urbana lotados na Regional que fica na Norte-Sul, aparecem para limpar o chão. E, nesse afã, meritório, sem dúvida, levam, para os desvãos de algum Aterro Sanitário, além do capim daninho as maravilhosas flores que só enfeitam e dão vida ao pedaço. Em verdade sinto que há, pelo departamento da Prefeitura encarregado de cuidar das ruas e dos logradouros, certo interesse em que tais espaços estejam bem. O trabalho que executam certamente não é nenhuma Brastemp, porém, certos canteiros da Norte-Sul e do trecho da Orosimbo nas proximidades da citada via, entre outros, apresentam boa cara. Agora, o que eu queria perguntar é o seguinte: será que nunca passou pela cabeça das autoridades municipais a quem cabe o trabalho a que acima me refiro aproveitar as flores que pintam nas calçadas sem terem sido plantadas por ninguém? Volto à Maria Encarnação Duarte com Nova Granada porque, a meu ver, é simbólica dos desperdícios das belezas que a natureza coloca para enfeitar os passeios e a turma da Limpeza vai lá e arranca. Será que seria tão caro para a Prefeitura contratar um paisagista que orientasse os funcionários das Regionais no aproveitamento das flores? Na esquina a que me refiro e cito como exemplo, a florescência que brota é bege com toque marrom no núcleo de onde saem as pétalas. Como não sabia o nome, me dei ao trabalho de pedir ao lendário jornalista Neldo Cantanti, um dos maiores repórteres fotográficos do Brasil, antes de aposentar, que captasse algumas imagens para que eu pudesse me movimentar. Isso feito enviei as fotos, pela Internet, para a psicóloga e escritora Eliana França Leme que, mesmo morando em São Paulo, mantém em Campinas bela casa privilegiada com jardim mais lindo do que os Suspensos da Babilônia. Como ela sabe tudo sobre botânica, seu hobby, logo me mandou a resposta: a flor que nasce ao léu em inúmeras calçadas campineiras é a Guarujá. Bom, então eu pergunto: por que não aproveitá-las para dar mais vida às nossas vias públicas? Claro, os homens da Limpeza Urbana continuariam a fazer seu trabalho; porém, com a colaboração de um paisagista, retirariam apenas os capins daninhos, deixando as flores para o nosso deleite. Por fim, vale salientar que Guarujá á apenas uma das dádivas maravilhosas, mas temos outras cujos nomes descobrirei. Há umas róseas, com tom mais escuro no centro; outras, brancas; mais terceiras, amarelas. Já constatei, na rua dos Alecrins, Querubim Uriel e travessas, que os próprios moradores procuram preservar as espécies que brotam nas calçadas perto de suas casas, protegendo os lindos tufos. Por que, afinal, a Prefeitura também não aproveita a dádiva que a natureza nos dá de graça? Por favor, senhor prefeito Jonas, não permita que arranquem as flores! Afinal, entendo ser um privilégio para V. Excia. comandar uma cidade onde pétalas coloridas nascem espontaneamente sobre caminhos que diariamente trilhamos. Quem pode querer mais? Preservemos o milagre!

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