DANÇA

A arte da entrega

Palco: o espanhol Pol Vaquero está de volta a Campinas, com uma agenda que inclui cursos, workshops e shows, além dos preparativos para a montagem da ópera flamenca Carmen

Eduardo Gregori
12/05/2013 às 05:52.
Atualizado em 25/04/2022 às 16:54

Paixão, energia, dedicação e absoluta entrega à sua arte. As quatro palavras resumem o perfil do artista flamenco Pol Vaquero Gutierrez, um dos mais importantes de sua geração e que se apresenta esta semana em Campinas. A visita é promovida pelo Café Tablao, escola de dança dirigida por Karina Maganha, com quem Vaquero tem estreita relação. Após dez horas de voo entre Madri e São Paulo, o dançarino ainda recebeu a reportagem para um bate-papo em que falou sobre sua carreira, as boas impressões que têm do Brasil, do seu amor por Campinas e da disseminação da cultura flamenca fora da Península Ibérica.

É o sétimo ano em que ele desembarca na cidade, onde cumpre uma agenda apertada, com cursos e workshops, além uma apresentação no Teatro Amil e um pocket show em Jundiaí. Desta vez, vem com um novo propósito. Está montando aqui a ópera Carmen, de Bizet, que vai marcar a comemoração dos dez anos do Café Tablao, em outubro. Nascido em Córdova, na região de Andalucía – berço do flamenco –, o artista teve a grata surpresa de encontrar no Brasil a admiração do público pela cultura de raízes ciganas. “Quando vim ao Brasil com o Balé Nacional da Espanha, senti que o público daqui aprecia e respeita o flamenco. Passamos por muitos teatros, sempre lotados. Esse contato com os brasileiros me motivou a vir ensinar aqui a minha arte. Gosto tanto de Campinas que todos os anos estou por aqui”, afirma o artista.

"Somos povos de sangue quente, apaixonados, recebemos bem os visitantes e valorizamos as tradições.”

A identificação com o Brasil e, principalmente, com Campinas, segundo Vaquero, tem muito a ver com a proximidade entre espanhóis e brasileiros. Na visão do artista, embora separados pelo Oceano Atlântico e pelo descompasso secular entre o Velho e o Novo Mundo, os dois povos têm muita coisa em comum. “Vejo bastante similaridade. Somos povos de sangue quente, apaixonados, recebemos bem os visitantes e valorizamos as tradições”, opina.

Em quase uma década entre idas e vindas, o artista diz que o que lhe inspira também a ensinar os campineiros 4 é o empenho dos alunos. “O flamenco tem avançado muito em Campinas. Há bailaores de todos os níveis, do iniciante ao avançado. A grande maioria se interessa pelo aprendizado, seja em aula, em workshops ou pela internet, onde aprendem passos que ainda não apresentamos aqui. Então, é muito bom trabalhar com esse perfil de aluno”, avalia.

Apesar de acreditar que os meios digitais são aliados no aprendizado e na disseminação da dança, Vaquero, que é defensor da escola de raiz, diz que é preciso ter cuidado no entendimento do que é o verdadeiro flamenco. “Tudo evolui, os carros, as pessoas e até mesmo a arte, mas existe uma raiz que não pode ser esquecida. O excesso de informação a que somos expostos hoje pode nos confundir sobre quais são, realmente, os princípios do flamenco e eu não compartilho das misturas que algumas pessoas propõem para a dança, por exemplo, com o moderno ou o contemporâneo. O flamenco é a expressão de um povo, assim como o samba é para os brasileiros. O baile nunca foi da elite; é uma arte da terra, de gente humilde que se reúne para comer, compartilhar e dançar,” defende.

Quase daqui

Nascido em berço humilde, que envolve as tradicões árabes e ciganas, o flamenco é uma poderosa forma de expressão de sentimentos humanos. Sapateado preciso, movimentos complexos de mãos e braços, elegância postural e uma música única colaboram para o magnetismo dos artistas em palco. Um exemplo é o próprio Vaquero, jovem de 33 anos, casado e pai de uma menina de 9, que se transforma num gigante em palco, dominando com maestria o espaço sob os holofotes e hipnotizando o público com o seu estilo e beleza clássicos. “Mas não me vejo com esse poder. Quando estou no palco, não penso se as pessoas me acham bonito ou apreciam outras características físicas. Naquele momento, quero estar comigo mesmo”, afirma.

Antes de se despedir para um justo descanso, Vaquero diz ter se identificado tanto com Campinas a ponto de planejar viver na cidade nos próximos anos. “Venho falando isso com a Karina há algum tempo. Tenho amizades aqui como tenho na Espanha. O Brasil é um país que vive seu auge, as pessoas me encantam, Campinas me encanta. Em breve estarei por aqui”, promete.

Você vai?

Pol Vaquero, Karina Maganha e Cia. Café Tablao,

quarta-feira, às 20h

Teatro Amil, Parque D. Pedro Shopping,

Av. Guilherme Campos, 500

Ingressos: R$ 50 (antecipados até o dia 14/5)

e R$ 80 (na hora).

Informações: (19) 3294-1650 

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