MANUEL CARLOS

A apatia coletiva acabou

Manuel Carlos Cardoso
25/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 11:43

Em maio de 2011 publiquei a crônica abaixo e creio ser a melhor hora para republicá-la, porque a apatia parece ter acabado.O brasileiro, talvez por não ter vivido uma guerra sequer, não sabe reagir aos mais diversos desaforos que sofre cotidianamente.Os governantes e os mais poderosos financeiramente fazem gato e sapato de nós. Os exemplos disso são incontáveis e nosso comportamento é aceitar tudo com a maior tranquilidade possível.Os maiores vilões dessa história são nossos governantes, que nos fazem trabalhar a metade do ano para pagar impostos e investem muito pouco e muito mal em saúde, educação e infraestrutura. Uma parcela significativa do que tomam de nós enfiam nos próprios bolsos e a praga da corrupção já se tornou tão natural, que o brasileiro agradece a eles por não terem roubado tudo.Adhemar de Barros era cultuado por boa parcela da população e o lema de sua campanha era “rouba, mas faz”. Quantos outros políticos conhecemos, que se perpetuam no poder, construindo verdadeiros impérios financeiros, sem poder demonstrar a origem do dinheiro e, quando morrem, são homenageados com a bandeira brasileira sobre o caixão e seu nome em logradouros públicos, muito provavelmente, para não nos esquecermos do quanto somos idiotas.A medalha de prata nessa competição de quem explora melhor o povo brasileiro cabe às instituições financeiras. Os bancos colocam uma porta giratória na entrada, para terem a certeza de que seus clientes estão desarmados e assim poderem assaltá-los lá dentro com maior tranquilidade. Praticam a agiotagem com o maior descaramento e divulgam lucros astronômicos em seus balanços financeiros, sem qualquer preocupação em melhorar seus balanços sociais.Os caixas eletrônicos, que desempregaram milhares de brasileiros, estão explodindo na cara de seus clientes e eles fazem de conta que o problema não é deles.As administradoras de cartão de crédito embolsam boa parcela do lucro de pequenos empresários, que não têm alternativas e nem a quem reclamar, porque seus representantes no Congresso Nacional não passam de uns frouxos.A medalha de bronze cabe aos supermercados, segmento transformado em verdadeiro monopólio, hoje nas mãos de poucos. Essa história de passarem a cobrar a sacola plástica para embalar as compras mostra bem quem é essa gente. Os espertalhões querem nos convencer que é para proteger o meio ambiente. Por certo, quando elas são pagas por nós se degradam em menor tempo.Tudo isso acontece e o povo continua apático, sem esboçar qualquer reação. A parcela da população que mais precisa é a que mais sofre com essa gente, mas os acadêmicos não ousam explicar porque o brasileiro é assim. Talvez, porque, em sua história, não tenha sofrido uma grande catástrofe ou as agruras de uma guerra, mas também pode ser por não ter ainda consciência do grande poder que detém. Não falo apenas do voto, da escolha de seus governantes, mas, sobretudo, quando se organiza e une suas forças para combater um mal comum. Precisamos sair dessa apatia coletiva.

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