Quando se tem 15,16 anos e se é um rapaz, a mente está aberta a todo tipo de fantasia e idolatria. Eu, nessa época, já tinha passado pelos fascínios de Tarzan, do Fantasma, Batman, Cavaleiro Negro, Super-homem e outros. Nem bem tinha saído dessa fase quando o cinema me apresenta um herói novo, cheio de charme, sedução e energia. Era James Bond, o 007, um agente secreto cujos zeros na frente do número significavam que tinha licença para matar! Veja o alcance disso! Era ele quem decidia se a pessoa, no caso algum facínora, devia viver ou morrer! Sem júri, promotor, advogado e juiz! Imagine como o sujeito devia ser especial para reunir nele todas essas entidades. Havia algo, porém, que fazia com que o tal agente secreto, James Bond, fosse ainda mais especial: era encarnado por Sean Connery que o fez com tal competência que invadiu o imaginário de milhões de jovens sequiosos por aventuras e de moças sedentas de um romance de bom calibre! James Bond/ Sean Connery passou a ser imitado em tudo! Nas roupas que vestia, no andar, no olhar, no arquear das sobrancelhas e na maneira de acender e segurar um cigarro! Já fumei na vida e sei muito bem do que estou falando. Lembro-me perfeitamente do primeiro terno que tive... Era azul, de tergal erontex e caia muito bem. Quando fui, com meu tio Clésio, a uma Bienal do Livro, no Ibirapuera, fiz questão de ir com o terno pois assim poderia exercitar a postura e o andar de Bond, James Bond! Ao chegar ao local descobri que várias câmeras exibiam as imagens dos visitantes em diversos monitores espalhados. Foi a glória! Além de fazer todas as poses, ainda pude vê-las reproduzidas na televisão! Era a primeira vez que tinha contato com esse tipo de tecnologia. Voltei para casa parecendo um pavão! A competência de Sean Connery era tanta que a idolatria transcendia a personagem, tanto que quando ele deixou de fazer o papel, jamais vi filme algum do agente secreto! E olhe que gostava de Roger Moore e Pierce Brosnan! Parei com 007, mas não parei com Sean Connery! Sempre foi para mim o maior de todos os atores. O Nome da rosa, Caçada ao Outubro Vermelho, Os Intocáveis, são obras primas de interpretação! Há muitos mais! Em Indiana Jones e A Última Cruzada, ele se divertiu muito fazendo o papel do pai do herói. Em Robin Hood, de Kevin Costner, ele aparece no finalzinho no papel do rei Ricardo Coração de Leão retornando de uma cruzada. Foi a conta! Engoliu o filme! O trabalho de Sean Connery era tão excepcional, sua presença tão marcante, que foi, apesar de engajado na luta separatista da Escócia, país onde nasceu, sagrado Sir pela Rainha Elizabeth II no ano 2000. Quando recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel de Malone, em Os Intocáveis, com Kaven Costner e Roberto De Niro, foi aplaudido em pé por todos que ocupavam o “Dorothy Chandler Pavillion”, local da festa de entrega dos prêmios da Academia, na época. Sean Connery, quando se separou de James Bond, não abandonou com a personagem o charme inerente ao agente secreto. Fosse em que papel fosse, militar, frade, ancião, a elegância era sempre a mesma. Como é possível alguém que veio de um meio tão humilde, tão simples, executando tarefas que muitos considerariam degradantes, tornar-se uma referência em termos de sofisticação e refinamento? Nasceu com ele, assim como a incrível capacidade de representar. A lenda foi embora... Para mim é difícil admitir. No meu entender, James Bond era imortal e, depois dele, Sean Connery era imortal! Estou triste e um tanto decepcionado. Alguém como ele não deveria ter o direito de morrer! No entanto, foi-se... Descanse em paz, Sir...