DIA DO CIRCO

Pesquisador do universo circense pela Unicamp discute a atual situação da arte

Artistas também compartilham sua relação com o picadeiro

Aline Guevara/ [email protected]
27/03/2024 às 09:17.
Atualizado em 27/03/2024 às 09:17
Neste Dia do Circo, pesquisador do universo circense pela Unicamp discute a atual situação da arte; artistas compartilham sua relação com o picadeiro (Natália Fernandi)

Neste Dia do Circo, pesquisador do universo circense pela Unicamp discute a atual situação da arte; artistas compartilham sua relação com o picadeiro (Natália Fernandi)

Neste dia — 27 de março — em que é celebrado o Dia Nacional do Circo, o pesquisador Daniel Lopes, do Grupo CIRCUS - Faculdade de Educação Física da Unicamp, garante: "o circo está mais vivo do que nunca". Coordenador do site www.circonteudo.com e estudioso da área desde 2005, o acadêmico explica que a visão de muitas pessoas sobre o circo é equivocada, relacionando a arte a algo ultrapassado e parado no tempo. Não é o caso. "Mesmo depois de uma pandemia, que foi brutal para os artistas, temos aí centenas de companhias em atividade circulando pelo País. O circo está muito longe de morrer", completa.

"Temos artistas formados em escolas de circo, outros são aqueles oriundos do circo social, há os autodidatas e aqueles mais ligados ao fazer circo chamado de tradicional. Todos coexistem. E tudo isso mostra mais o crescimento do circo do que escassez." A diversidade da atividade artística circense atualmente é muito grande, explica Daniel, que trabalhou muitos anos em parceria com Ermínia Silva, referência na pesquisa acadêmica sobre o assunto.

Ermínia faleceu no último dia 13 de março, aos 70 anos, mas não sem antes deixar um trabalho extenso sobre o circo brasileiro. "Esse conhecimento científico sobre as artes circenses é muito importante para, entre outras coisas, a valorização dessas artes junto à sociedade. O circo ainda é visto de uma forma muito precarizada, pautada como arte menor, e muitos artistas do meio são encarados como desocupados. A Ermínia foi um grande expoente nesse espaço e as pesquisas dela foram fundamentais para compreendermos de forma ampla e complexa o circo na atualidade, sem nos fecharmos em rótulos", comenta o pesquisador.

CIRCO TRADICIONAL E CONTEMPORÂNEO

Existe uma discussão complexa que povoa o atual universo circense sobre o circo tradicional e sobre o contemporâneo. O tradicional seria aquele que engloba um modo de organização de artistas itinerantes que nasceram no circo, que têm o conhecimento passado através de gerações. "É aquele modelo que geralmente nós, nossos pais e avós, víamos quando criança", aponta Daniel.

O contemporâneo, que começou aproximadamente nos anos 1970, é o avesso do tradicional. Não tem os números típicos, nem o elemento familiar hereditário, com artistas formados pelas escolas de circo.

Mas essas definições, explica o pesquisador, não se sustentam. Há muitas variáveis dentro dos artistas e espetáculos que tentam se encaixar em cada estilo. Ele analisa: "é difícil dizermos que com as escolas surge um fazer circense diferenciado, uma vez que os professores vêm desses ambientes ditos tradicionais. E o circo itinerante também é entendido como uma escola, um lugar de saber." A conclusão a que Daniel chega é que há elementos de um tipo no outro, desde sempre, especialmente no circo atual brasileiro. "Está tudo misturado."

MÁRCIO PARMA, PALHAÇO E MÁGICO

"O Tachinha, meu palhaço, tem mais roupas do que eu", brinca Márcio Parma, ao falar sobre a importância do circo em sua vida. Há mais de 25 anos, quando Tachinha surgiu, ele vivencia dois lados do circo que, no seu caso, se complementam: a palhaçaria e a mágica. Ele não vem nem da tradição circense passada através de gerações, nem das escolas. Mas a semente do amor pelo picadeiro foi plantada na infância, quando os pais o levavam para as apresentações circenses. "Sempre me levavam nos circos que chegavam em Campinas e vi grandes nomes de palhaços atuando. Eu me apaixonei pelas cenas cômicas".

Mas foi só quando começou a cursar Educação Física que iniciou disciplinas circenses: malabarismo, trapézio, pirofagia. Mergulhou na diversidade do universo antes de focar nas áreas com as quais mais se identificava. Para tanto, contou com o aprendizado na estrada e muitos mestres circenses que o ensinaram. Entre eles, Marion Brede, artista acrobata alemã que nasceu dentro do circo — cujos pais foram o ginasta Horst Brede e a trapezista Margot Burket — e que vive em Barão Geraldo.

A família Brede — junto com Marion, seu marido Félix e filhos — passou seu conhecimento a artistas ao longo de anos em Campinas por meio de iniciativas como a escola Cia. do Circo. "O circo é indissociável de minha vida. Minha vida no circo foi e ainda é um aprendizado constante. Eu devo muito àqueles que estão na estrada faz tempo e são grandes referências." Hoje, Márcio tem sua própria companhia circense, a Cia. 2 Picadeiros.

DÉBORA ISHIKAWA, ACROBATA

A acrobata Débora Ishikawa teve o primeiro contato com as artes circenses aos 14 anos, dentro de um projeto social. "Foi um lugar acolhedor, onde descobri muitas potencialidades e individualidades que podiam ser exploradas. Eu sentia a sensação de pertencimento." Além de profissão, conta, o circo é um estilo de vida.

Na companhia que tem com o também acrobata Alessandro Coelho, a Cia. Gravitá, ela trabalha com o circo clássico (de exposição de habilidades), mas também explora outras linguagens, como o teatro e a dança. "O circo precisa ser exaltado porque é uma arte popular que nem sempre ganha grande destaque, mas segue forte. Ele transforma a vida de quem está assistindo, mas também de quem descobre no circo um potencial dentro de suas muitas modalidades. É apaixonante", completa.

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