inclusão social pela música

‘Mundo Azul’ usa videoclipe e animação para abordar o autismo

Projeto do Instituto Anelo lança música inédita e expõe com afetividade a vivência e as dificuldades de pessoas com Transtorno do Espectro Autista

Da Redação/ [email protected]
28/03/2024 às 13:37.
Atualizado em 28/03/2024 às 13:37
Luccas Soares, fundador do Instituto Anelo, se inspirou na vivência com seu filho João para compor a música ‘Mundo Azul’ que, agora, junto com vários músicos, será lançada em várias plataformas digitais e em videoclipe (Divulgação)

Luccas Soares, fundador do Instituto Anelo, se inspirou na vivência com seu filho João para compor a música ‘Mundo Azul’ que, agora, junto com vários músicos, será lançada em várias plataformas digitais e em videoclipe (Divulgação)

Um projeto liderado pelo Instituto Anelo envolve 18 músicos, profissionais de produção e divulgação, entidades, pais e pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no processo de lançamento da música inédita "Mundo Azul". A canção será lançada em todas as plataformas digitais em 2 de abril – Dia Mundial da Conscientização do Autismo – e terá mais duas versões: em videoclipe, com lançamento agendado para 9 de abril, e outra acompanhada de uma animação, cujo lançamento será em 16 de abril. O projeto conta com os vocais de Luccas Soares, fundador do Instituto Anelo, da cantora Aline Ramos e a participação especial de Amanda Maria, finalista do programa The Voice. O Instituto Anelo promove, há 23 anos, a inclusão social pela música em Campinas. 

Segundo Luccas Soares, a inspiração para a música veio da vivência com seu filho João, de 4 anos, diagnosticado com TEA. Porém, em conversas com pais de crianças autistas atendidas nas aulas do Instituto, ele percebeu potencial para um projeto maior, que promovesse conscientização falando sobre "as dificuldades, desafios e, acima de tudo, sobre amor". "Trocando com muitos pais, vi que se identificaram, que a música era além de casos individuais", afirma. De forma afetiva e lúdica, mas realista, a ideia é expor a vivência das pessoas envolvidas com esse "mundo azul" (cor que simboliza o autismo) e, assim, estimular também a reflexão sobre a necessidade de ações para a inclusão social não só dos autistas, mas em extensão de todas as pessoas consideradas "atípicas", que têm algum transtorno ou deficiência. 

Sobre a situação que o despertou para a composição, o músico conta que isso aconteceu após uma noite insone dele e de sua esposa Geiza, devido à agitação do filho. Pela manhã, ambos cansados, se depararam com um menino sorridente e buscando por eles para brincar no balanço. "Eh, João, se fosse fácil, não seria você", reagiu Luccas, pinçando logo esse trecho – Se fosse fácil, não seria você – para iniciar uma nova letra. Uma situação que também indica um dos grandes desafios enfrentados pelos pais de autistas – a própria saúde mental. "Não tenho vergonha de dizer que tive depressão devido à privação do sono, algo muito difícil de enfrentar, e nesse processo comecei a compor. Entre os casais, pais de atípicos, é muito comum que tenham depressão. Não é só a criança que precisa de cuidados, os pais também."

Com a composição terminada, Luccas apresentou a proposta ao músico e arranjador Fernando Baeta, que propôs um arranjo especial e chamou um time de músicos, além de escolher um estúdio para fazer a gravação, no distrito de Barão Geraldo. A música é interpretada por Luccas e pelas cantoras Aline Ramos e Amanda Maria, e conta ainda com três cantores para backing vocal, músicos para bateria, contrabaixo, teclado, percussão, sax, trombone, trompete e um quarteto de cordas. A gravação do videoclipe contou com autistas atendidos no Anelo, Instituto Ser e Paica (Programa de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente), de Campinas, em situações cotidianas de atendimento. 

Com arranjo alegre, " Mundo Azul" traz ainda, em um trecho da letra, a frase "Eu te amo, meu amor" cantada em mandarim (Wo ài ni, Qin'ài de), indicando duas linguagens diferentes entre pessoas que se amam. Para isso, os músicos contaram com a contribuição de Jia Sun Costa, professora de mandarim, que ensinou e treinou a pronúncia correta no idioma estrangeiro. Ao se referir ao filho na canção como "Meu mundo azul", o autor também buscou incluir o girassol, uma simbologia comum a diversos tipos de deficiência, não só o autismo. Também foi contratado um time para produzir uma animação para a música. Para viabilizar os custos, o projeto conseguiu apoio de verbas sociais do Ministério Público do Trabalho (MPT) e de uma empresa de plano de saúde. "Nosso foco é conscientizar, mas, sobretudo, homenagear os familiares, que vivem essa realidade. Sem romantizar e, também, não dramatizando, a música busca mostrar esse amor de uma forma real", conta Luccas. 

Durante o processo de produção, Luccas já falou sobre o “Mundo Azul" em seminários sobre autismo e apresentou a canção em clínicas especializadas. A proposta é disponibilizar gratuitamente a canção para campanhas de conscientização do espectro autista. Mas, para Luccas, a dificuldade que "mais dói" aos pais de autistas é a batalha pela inclusão escolar. "A maioria das escolas que visitamos, e foram muitas, não estava preparada para atender. O mais triste é que muitas não estavam nem interessadas em saber mais, em preparar professores. E quando a gente procura escola pública, elas proíbem a entrada de acompanhante terapêutico (AT). É uma grande polêmica, pois as unidades proíbem, mas não providenciam pessoas capazes de dar suporte aos nossos filhos. E a educação é uma necessidade básica. Se a escola não incluir, quem vai?", questiona, ressaltando que a luta dos pais pelos AT é também uma forma de proteger seus filhos de casos de violência dentro da escola, que atingem principalmente as crianças com maior dificuldade de comunicação.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por