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Disco de Vinil: amor das antigas que continua atual

No Dia Nacional do Disco de Vinil, amantes dos bolachões lembram histórias e comentam o motivo da mídia ser tão cultuada

Aline Guevara/ [email protected]
20/04/2024 às 09:25.
Atualizado em 20/04/2024 às 09:26
Rafael Marcolino comprou coleções particulares do baterista Duda Neves, que tocou com Tim Maia e Jorge Benjor, e também do colecionador Zeca Leal (Ariane Marcolino)

Rafael Marcolino comprou coleções particulares do baterista Duda Neves, que tocou com Tim Maia e Jorge Benjor, e também do colecionador Zeca Leal (Ariane Marcolino)

Desenvolvido na década de 1940 pelo engenheiro húngaro Peter Carl Goldmark, para a gravadora norte-americana Columbia Records, o disco de vinil foi um marco para o consumo de música no mundo. De repente, as pessoas podiam ter em casa as músicas de seus artistas favoritos e tocá-las quando quisessem, sem precisar esperá-las no rádio. Para a época, foi uma revolução. 

Hoje, em 20 de abril, é celebrado o Dia Nacional do Disco de Vinil por causa da homenagem ao músico brasileiro Ataulfo Alves (falecido na mesma data, em 1968). Para comemorar, amantes dos bolachões de Campinas compartilham histórias e suas impressões sobre qual é a explicação para o disco continuar tão popular e amado, mesmo entre as gerações mais jovens. 

DE PAI PARA FILHO

O fotógrafo Adriano Rosa é bem reconhecido em Campinas por ser um apaixonado pelos discões. "Minha coleção começou nos anos 1980, com os discos de meu pai e de minha mãe, que ouviam muitas orquestras, Big Bands, música caipira e Nelson Gonçalves." O primeiro vinil próprio, lembra, foi do Fagner, que ele mesmo escolheu. Um presente do pai na época. Desde então, nunca parou de comprar. Adquiria os álbuns com as músicas que ouvia nos bares e rádios e gostava, especialmente, de artistas brasileiros. 

Nos anos 1990 e 2000, muitos começaram a se desfazer de suas coleções de discos de vinil. Foi quando Adriano começou a ganhar muitos álbuns, até 600 bolachões de uma única vez. "A coleção aumentou até demais", brinca. 

O fotógrafo acha que as gerações mais novas provavelmente ficam surpresas ao perceber que a qualidade do som do vinil é superior às gravações digitais. "É um som mais puro, que corresponde melhor ao que foi gravado nos estúdios. Também tem a capa, os encartes, as informações descritas ali. Nas plataformas digitais, não temos isso. Depois que você começa no vinil, é difícil não ouvir mais desse jeito", afirma. 

A coleção do fotógrafo Adriano Rosa começou nos anos 1980, com discos do pai e da mãe, que ouviam muitas orquestras, Big Bands, música caipira e Nelson Gonçalves (Mariana Rosa)

A coleção do fotógrafo Adriano Rosa começou nos anos 1980, com discos do pai e da mãe, que ouviam muitas orquestras, Big Bands, música caipira e Nelson Gonçalves (Mariana Rosa)

 RITUAL DO VINIL

O engenheiro Rafael Marcolino acha que sua conexão com os vinis vem de sua geração, mais desacelerada em comparação à atual. "Sou de uma geração que tem mais paciência para ouvir um álbum inteiro, sem a possibilidade de ficar pulando faixas. Apesar de outras mídias terem surgido, resolvi ter esse tipo de relação com a música, respeitando esses rituais. São meus momentos de relaxamento." O ritual, explica, que não permite que a pessoa faça várias coisas enquanto ouve o disco, exige essa reverência que outras mídias não proporcionam.

Rafael lembra de quando comprou a coleção particular de jazz do baterista brasileiro Duda Neves, que tocou com Tim Maia e Jorge Benjor. "Muita coisa que ele tinha veio autografada e com dedicatória de artistas incríveis", recorda. Outra história marcante para o engenheiro foi quando ele adquiriu os discos de um grande colecionador, Zeca Leal. "Ele já havia falecido e a filha queria vender, mas também queria contar a história dele, que foi amigo pessoal de Dorival Caymmi e Dick Farney, um dos maiores colecionadores de Frank Sinatra no Brasil. Resgatamos muitas histórias dele com ícones da música brasileira e fizemos um evento abrindo a coleção para visitação." O vinil, reforça ele, proporciona esses momentos. 

DISCOS CONECTAM PESSOAS

O comerciante e roteirista de TV, Afonso "Fifo" Cappellaro é outra figura notável da turma dos discos na cidade. Ele os coleciona há mais de 25 anos e possui mais de 6 mil álbuns no acervo particular e mais uns 3 mil na loja que abriu, há cerca de três anos, para comercializar os vinis em Campinas. Começou a sua coleção particular justamente nessa época de descarte dos vinis, quando surgiu o CD, impulsionado pela curiosidade de ouvir os discos de músicas brasileiras dos pais, produzidas na época da ditadura militar. 

Fifo acredita que a relevância do vinil vem de ele ser uma mídia física. "Junto com esse tipo de som, vem uma energia diferente. A música está naquele plástico, nos sulcos do disco, e você tem que pegar na mão, colocar a agulha, observar a capa. Existe um cuidado diferente e o disco exige mais atenção do ouvinte. O vinil se conecta com o fã que quer ter algo diferente do artista que ele gosta." O comerciante explica que alguns de seus clientes não tem nem vitrola para tocar os álbuns. 

Ele lembra que uma garota veio à sua loja procurando um disco do Joe Cocker. Era um álbum que o pai tinha, gostava muito, mas perdeu ao emprestar para alguém. Fifo conseguiu arranjar esse disco e a jovem deu para o pai, que ficou bem emocionado. "Sempre temos histórias legais assim, que conectam pessoas", completa.

Feiras e discotecagem celebram Dia do Vinil

O Espaço Goma Arte e Cultura, em Barão Geraldo, promove, a partir das 21h, o show de DJ Erick Jay e também uma feira de vinil. Ele vai tocar hip hop, rap e brasilidades com um som 100% proveniente do vinil. 

Eric Jay é respeitado mundialmente tanto pelo seu repertório musical quanto por sua distinta técnica na arte dos toca-discos, o que o levou a conquistar 12 títulos nacionais e cinco internacionais em campeonatos de DJ. A Escola de Samba Vai-Vai, no enredo sobre Hip-Hop apresentado no Carnaval deste ano, homenageou Eric Jay com um carro alegórico.

Logo depois da apresentação, quem assume é o DJ Xegado e o trio de mulheres Discomina e Dj Wbreak, seguindo o mesmo tipo de repertório. O endereço é Avenida Santa Isabel, 518, e os ingressos custam a partir de R$ 20.

Já na manhã de hoje, na Nova Campinas, haverá a tradicional Feira de Vinil da AIMEC Campinas (escola de DJs) na Rua Viscondessa de Campinas, 459. O evento é gratuito e reúne expositores, DJs e food trucks.

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