PREJUÍZO À POPULAÇÃO

Vandalismo nos ônibus de Campinas triplica em 2023

Sindicato não tem levantamento de quantos veículos deixam de circular por causa das depredações, mas revelou a média de 36 casos por dia

Da Redação
15/11/2023 às 17:11.
Atualizado em 16/11/2023 às 08:47
As ocorrências mais frequentes são as pichações, ao ponto de as limpezas virarem algo cotidiano (Rodrigo Zanotto)

As ocorrências mais frequentes são as pichações, ao ponto de as limpezas virarem algo cotidiano (Rodrigo Zanotto)

Os casos de depredação na frota de ônibus do transporte público de Campinas triplicaram nos dez primeiros meses de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros da Região Metropolitana de Campinas (SetCamp), foram registradas, em média, 12 ocorrências diárias de vandalismo aos ônibus até outubro de 2022. Neste ano, os casos saltaram para 36 por dia, um aumento de 200%, conforme revelou o diretor de comunicação da SetCamp, Paulo Barddal.

As ocorrências mais frequentes são as pichações, e há casos em que as almofadas dos bancos de passageiros são cortadas ou arrancadas, as lâmpadas internas quebradas e as placas que informam o itinerário (fixadas na parte externa dos ônibus) são deslocadas. Além disso, a lataria externa também é alvo de pichação, apoios dos braços e da cabeça são destruídos, vidros são riscados com estilete, chicletes são grudados nos bancos e nos encostos. Barddal conta que o mais recente ato de vandalismo tem sido o roubo das placas dos veículos.

Questionado a respeito da quantidade de ônibus que deixa de circular diariamente por causa das depredações, Barddal diz que não há como especificar esse número, pois a SetCamp não tem esse levantamento.

“Depende das ocorrências e dos finais de semana, pois se o estrago é de pequena monta, o pessoal conserta assim que o ônibus chega (na garagem). Nos casos de vandalismo mais grave ficam um ou dois ônibus sem circular, mas não temos uma estatística disso”, afirma Barddal.

Ele acrescenta que dependendo do grau de vandalismo, o ônibus pode ficar parado por até uma semana. Além disso, ao praticar o vandalismo, as empresas precisam gastar mais com a manutenção e nas compras de peças e acessórios.

Os maiores atos de depredação, segundo o diretor da SetCamp, acontecem aos finais de semana, quando há festas que reúnem um grande número de pessoas. Quando estão em grupo, alguns pulam a roleta para não pagar a passagem, arrancam as saídas de emergência, rasgam os bancos, chutam as portas, entre outros atos que danificam a frota de transporte público.

“Quando o ônibus tem a placa roubada, por exemplo, é preciso solicitar outra ao órgão de trânsito e isso demanda tempo, pois a nova placa tem de ser fabricada. Quem tem o serviço de transporte público prejudicado é a população”, relata o gerente da SetCamp.

O vandalismo afeta, principalmente, a frota que circula na região do Ouro Verde, Vila União e Corredor Amoreiras, com uma concentração maior dos casos entre 9h e 15h. Os atos prejudicam linhas que atendem à periferia, como a 115 (Adhemar de Barros), 120 (Terminal Ouro Verde), 131 (Terminal Vida Nova), 190 (Jardim São Domingos) e 191 (Jardim Fernanda).

Além da falta de peças e acessórios, que precisam ser encomendadas e podem demorar para chegar, o que pode atrasar o retorno do veículo às ruas, encontrar espaço na garagem para que o ônibus permaneça parado até o reparo é outro problema enfrentado. Inclusive, o custo dos concertos é repassado para a planilha que define o preço da tarifa. “Os usuários reclamam que os ônibus estão sujos e a tarifa cara, mas o motivo é o vandalismo.”

Os veículos começam a circular às 4h e retornam para a garagem à 1h do dia seguinte. Portanto, as empresas têm cerca de três horas para providenciarem os consertos, a limpeza e as demais manutenções necessárias. Quando retornam à garagem depois de cumprido o expediente, os motoristas relatam os problemas que perceberam durante o período em que estiveram no comando dos veículos, como algum problema na parte elétrica ou mecânica.

O problema, relata Barddal, é que em razão do aumento dos casos, uma equipe de profissionais formada por eletricistas, funileiros, mecânicos, tapeceiros, pintores e pessoal da limpeza, tornou-se necessária cotidianamente.

Um dos reparos mais caros, neste ano, foi a reposição dos vidros que foram depredados. O custo foi de R$ 10 mil. Além dos vidros, as portas foram quebradas e a saída de emergência danificada, o que aumentou ainda mais o custo para que esse veículo voltasse a servir aos usuários do transporte público.

“As empresas mantêm uma quantidade de veículos reservas, mas os casos de vandalismo estão extrapolando em demasia a capacidade de repor os veículos. Por isso, podem ocorrer situações de não haver ônibus disponível para repor na linha, o que prejudica a população”, afirma o diretor de comunicação da SetCamp.

O motorista da Onicamp, Rodrigo Flores, diz que presencia diariamente atos de pichação nos veículos que dirige. Ele trabalha nos turnos das 4h45 às 9h30 e das 13h30 às 17h10. “As pichações acontecem a qualquer hora”, diz Flores. Ele diz que percebe os atos pelo retrovisor e, quando possível, interrompe o trajeto, estaciona e pede para que não se deprede o patrimônio público. Quando não é ouvido, volta a conduzir o veículo e segue o seu caminho.

Mariana Rodrigues é usuária das linhas do bairro Campo Belo. Ela conta que frequentemente encontra pichações nos veículos que utiliza, mas isso não a incomoda. O que é pior, para ela, é quando o ônibus quebra no meio do trajeto. “O que mais afeta a minha rotina não são os rabiscos nos assentos ou encostos, mas a falta de manutenção que nos faz perder compromissos.”

A preocupação da cozinheira Mara da Silva é com a falta de corrimão e de almofada no assento. Ela já andou em veículos sem esses itens e considera que a população fica em risco quando eles não são consertados. Mara também reclama da limpeza dos veículos. Segundo ela, geralmente eles estão sujos, com restos de embalagens de alimentos consumidos pelos usuários durante o trajeto.

ESTAÇÕES E TERMINAIS

No período de janeiro a 10 de outubro de 2023, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) registrou 75 ocorrências (vandalismo, acidentes com danos e furtos) que resultaram em danos a terminais e estações dos três Corredores BRT (Campo Grande, Perimetral e Ouro Verde). Foram registradas 44 ocorrências de vandalismo, 20 acidentes com danos na infraestrutura das estações e terminais e 11 casos de furtos.

Para coibir situações deste tipo, a Emdec vem intensificando as rondas realizadas pelas equipes de Segurança Patrimonial nesta região e conta com o apoio da Guarda Municipal. Está em fase de implantação um sistema de monitoramento e segurança eletrônica (CFTV) para identificar e coibir as ações de vandalismo em estações dos corredores BRT. O sistema permitirá o monitoramento 24 horas por dia.

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