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Setec tem planos de sepultar animais em lóculos

Espécie de ‘sepultura vertical’ deve ser construída primeiro no Cemitério dos Amarais, local que recebeu o enterro do primeiro pet nesta semana

Daniel Rocha/ [email protected]
20/04/2024 às 09:31.
Atualizado em 20/04/2024 às 09:31
Na última quinta-feira, Pingo, um cão híbrido de rottweiler com golden retriever, de sete anos, foi o primeiro pet a ser enterrado em um cemitério público de Campinas (Carlos Bassan)

Na última quinta-feira, Pingo, um cão híbrido de rottweiler com golden retriever, de sete anos, foi o primeiro pet a ser enterrado em um cemitério público de Campinas (Carlos Bassan)

Logo após o primeiro sepultamento de um animal de estimação nos cemitérios públicos de Campinas, a autarquia de Serviços Técnicos Gerais (Setec) informou que há a possibilidade de o Cemitério dos Amarais receber um número, ainda não definido, de lóculos, que são gavetas voltadas para o sepultamento de pets. 

O projeto-piloto deve ser implantado após o término de um estudo, ainda em fase preliminar, que está sendo elaborado pela Setec. A quantidade exata destes lóculos, se haverá necessidade de ampliação posteriormente e se os outros cemitérios públicos da cidade (Saudade e Sousas) também os receberão são questões que serão definidas pelo relatório que está em fase de produção.

De acordo com o presidente da Setec, Enrique Lerena, o Amarais foi escolhido por haver mais espaço disponível para a construção, enquanto nos outros cemitérios as áreas livres são bem mais escassas. Além disso, ele explicou que será preciso observar a demanda referente ao sepultamento de animais a partir de agora para saber o quanto mais precisará ser construído ou não.

PRIMEIRO 

SEPULTAMENTO

Na quinta-feira, dia 18, Pingo, um cão híbrido de rottweiler com golden retriever, de sete anos, foi o primeiro pet a ser enterrado em um cemitério público de Campinas. A lei que autoriza a inumação de animais em cemitérios públicos foi sancionada em 8 de março e regulamentada em 8 de abril. Desde então, todos os tutores que tenham jazigo em qualquer cemitério público de Campinas podem realizar o enterro de seu pet nele.

A tutora de Pingo, Maria Helena Rodrigues, disse que ele faleceu por causa de um problema renal. Ela fez questão de que ele fosse sepultado no jazigo de sua família. Maria Helena é proprietária de uma marcenaria localizada no Jardim Maria Rosa, na região sudoeste de Campinas, e contou que Pingo era um cachorro muito ativo, “um verdadeiro bebezão”. Ele foi adotado logo depois de nascer, assim como a sua mãe, Princesa, de doze anos.

“O Pingo ficava na minha empresa com outro cão que meu marido e eu temos. A Princesa fica na minha casa sozinha, porque ela é muito territorialista e não aceita outro cachorro por perto. No entanto, depois que o Pingo ficou doente ela aceitou que ele estivesse por aqui (em sua casa) até o final e em nenhum momento brigou com ele. O instinto de mãe com certeza falou mais alto. Agora ela está bem sentida e a médica veterinária me disse que é preciso dar espaço e deixá-la vivenciar o luto”, emocionou-se Maria Helena.

A empresária percebeu que Pingo havia adoecido quando, de repente, de um dia para o outro, ele parou de caminhar. Levado ao veterinário, foram detectados um início de anemia e uma grande massa em volta de sua bexiga e uretra. Além disso, foi constatado que um rim havia parado e o outro já estava comprometido.

“A veterinária que nos atendeu optou por uma cirurgia a fim de tirar o rim que estava com problema para que ele pudesse ter uma qualidade de vida melhor. Ele aguardou o procedimento em casa, tomando medicação para dor. Isso aconteceu em um espaço de quinze dias. Na madrugada de anteontem eu fiquei acordada à noite toda cuidando dele, até que, por volta das 6h30, fui dar mais um remédio e percebi que ele havia falecido", lamentou Maria Helena.

De acordo com a empresária foi tudo muito rápido. A princípio, acreditou-se que a massa encontrada poderia ser um tumor, mas como não houve tempo de fazer a cirurgia, não foi possível comprová-lo. Pingo faleceu no dia em que seria operado. “Optamos por apenas fazer o enterro dele e deixá-lo descansar”, disse Maria Helena.

MEMBRO DA FAMÍLIA

Sobre a possibilidade de enterrar pets nos cemitérios, a empresária disse ter sabido que isto poderia ser feito somente a partir do momento em que Pingo morreu. Ela disse que consultou vários lugars e os valores oscilavam entre R$ 400 e R$ 800.

Ao achar que o valor estava muito alto, seu marido, Fábio, ligou no telefone 156 da Prefeitura para descobrir se havia outra alternativa. Foi quando ela e Fábio souberam que poderiam fazer o sepultamento do modo como foi realizado, em um dos três cemitérios municipais de Campinas. Por sua família possuir um jazigo no Cemitério dos Amarais, o enterro aconteceu lá, com a anuência de seus pais, com o valor total ficando em R$256,61.

“O Pingo era um membro da família, então quando soubemos que o sepultamento poderia ser feito dessa forma, no mesmo momento os meus pais disseram, ‘vamos enterrá-lo no jazigo da família’ e isso foi fantástico.”

EXPERIÊNCIA NOVA

Para o presidente da Setec, o primeiro sepultamento foi uma experiência nova e um fluxograma já foi desenhado para os próximos enterros. Ele explicou, porém, que quando quaisquer operações se iniciam, novidades sempre aparecem e adequações são necessárias.

Lerena ressaltou que o sepultamento de um pet é muito semelhante ao de um ser humano, então é uma operação padrão. A única diferença, segundo ele, é que como ainda não há velório de animais, há a necessidade de aprimorar a recepção para receber e prontamente sepultar o animal.

“Na lógica do sepultamento de humanos, você tem o velório e, antes disso, toda a arrumação do corpo e afins. É um fluxo bem desenhado. No caso dos animais, nós temos que deixar um servidor para receber o pet e acondicioná-lo até o seu sepultamento em um local próprio para depois fazer o sepultamento. A nossa grande preocupação é de que os procedimentos para humanos aconteçam separadamente dos procedimentos voltados aos animais”, esclareceu Lerena.

OPINIÃO DA POPULAÇÃO

As pessoas que estavam no Cemitério dos Amarais manifestaram, em geral, apoio à lei. O aposentado Adão Pereira Camargo, que diz gostar muito de cachorros, acredita que a ideia do sepultamento de um pet no jazigo da família é bastante válida, assim como a dona de casa Marli Antônio. Ela não sabia que havia uma lei com esse tema aprovada em Campinas. “As pessoas têm carinho, amor, os animais de estimação ficam dentro de casa, dormem na cama. De fato, é um membro da família. Eu concordo com isso. Acho ótimo”, comentou Marli.

O pedreiro Willians Monteiro da Silva opinou que cada um pode fazer o que quiser, mas ressaltou que, para ele, a sepultura da família é para os seres humanos, ainda que ele não seja contra “de maneira nenhuma". “Eu não faria, mas o que importa é o desejo de cada um.” 

REGRAS

Todos os animais domésticos podem ser sepultados no jazigo que determinada família tenha ou venha a adquirir, desde que pesem até 120 quilos, que é o peso máximo de cães de raças de grande porte. Não haverá preparação do corpo do pet falecido. O animal precisa chegar ao cemitério acondicionado em um envelope próprio para essa finalidade. Em geral, as clínicas veterinárias já adotam essa medida.

Também não será necessária uma urna mortuária. Os pets podem ser sepultados no próprio envelope. A Setec prepara uma licitação para que sejam adquiridas e comercializadas urnas para os animais domésticos. Em relação aos envelopes, ele diz que há um grande número nos cemitérios, a cargo da Setec, e que não estão sendo utilizados. Em um primeiro momento, serão fornecidos a aqueles que forem sepultar os seus pets. O valor deles estará dentro do custo do sepultamento. A tendência é que isso aconteça ao longo do ano de 2024.

Além disso, deverão ser apresentados os seguintes documentos: Declaração de Óbito assinada por um médico veterinário, na qual deverá ter o motivo que levou o animal à morte, e Guia de Autorização para a Liberação e Sepultamento de Animais Domésticos (Galisad), que será preenchida pela própria Setec com as informações fornecidas pelo tutor do animal.

Caso ocorra o falecimento de outro pet da família, será possível sepultá-lo no mesmo jazigo se todas as gavetas não estiverem preenchidas. Cada jazigo conta com três gavetas e é possível utilizar as vazias para o enterro de outros animais. A regra, que também vale para humanos, diz que se uma gaveta for usada ela só poderá ser utilizada de novo três anos depois do último enterro.

Por fim, levar outros pets para se despedirem daquele que faleceu, ou para visitar o túmulo posteriormente, será possível. Para isso, será necessário equipar o animal com guia e coleira para que não haja risco a outros frequentadores dos cemitérios.

VALORES

O sepultamento de pets nos cemitérios públicos de Campinas custa R$ 233,29. O valor é o mesmo independentemente do peso do animal. Caso o tutor decida sepultar somente as cinzas, o enterro sai por R$ 116,64. A emissão da Guia de Autorização para Liberação e Sepultamento de Animais Domésticos custa R$ 23,32.

Para tirar dúvidas sobre o assunto, basta contatar a Setec por meio dos telefones (19) 3734-6178(para os cemitérios da Saudade e de Sousas) e (19) 3246-1079 (para o Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição - Amarais).

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