IMUNIZANTE CONTRA A DENGUE

Ministério da Saúde confirma que Campinas não terá a vacina Qdenga em 2024

Segundo a Pasta, estratégia para 2024 está totalmente definida; 521 cidades anunciadas serão as únicas que receberão a vacina neste ano

Isabella Macinatore/ [email protected]
27/01/2024 às 10:27.
Atualizado em 27/01/2024 às 10:27
Na rede particular, Qdenga é recomendada para a faixa etária entre 4 e 60 anos; já no SUS, a estratégia adotada foi destinar a vacina para pessoas entre 10 e 14 anos (Kamá Ribeiro)

Na rede particular, Qdenga é recomendada para a faixa etária entre 4 e 60 anos; já no SUS, a estratégia adotada foi destinar a vacina para pessoas entre 10 e 14 anos (Kamá Ribeiro)

Após Campinas ficar fora da relação de 521 municípios que terão prioridade para receber a vacina contra a dengue (Qdenga), lista divulgada nesta semana, o Ministério da Saúde confirmou que a estratégia relativa ao imunizante em 2024 já está totalmente definida. Portanto, mesmo com o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), anunciando que entraria com um ofício para reivindicar a presença do município na relação, Campinas não receberá doses da vacina neste ano.

A ausência da cidade na campanha de vacinação anunciada pode aumentar a demanda por vacina contra a dengue em clínicas particulares de Campinas. A procura já é grande e aumentou consideravelmente recentemente. Em um laboratório consultado, houve um aumento de 203% na procura pela proteção desde outubro de 2023. Considerando alguns laboratórios e clínicas de vacinação, o preço do imunizante na rede particular varia de R$ 300 a R$ 490.

A vacina mais procurada entre os laboratórios ouvidos pela reportagem é a Takeda, comercialmente conhecida como Qdenga. A vacina demonstrou eficácia na proteção contra a infecção, principalmente no desenvolvimento de quadros graves. É a mesma disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), porém para faixas etárias diferentes. No SUS, o Ministério da Saúde anunciou a estratégia de vacinar apenas pessoas entre 10 e 14 anos. Já na rede particular a Qdenga é recomendada para a faixa etária entre 4 e 60 anos.

Além da Qdenga, outra opção no mercado é a Dengvaxia. Até 2023, essa vacina, fabricada pelo laboratório francês Sanofi Pasteur, era a única aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disponível no Brasil. No entanto, a Dengvaxia não faz parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Ela é indicada para aqueles entre 9 e 45 anos.

Ao comparar as duas vacinas, Dengvaxia e Qdenga, surgem três diferenças principais. A primeira é a faixa etária, já citada. Outra diferença é que a Dengvaxia é recomendada apenas para pessoas previamente infectadas com o vírus da dengue, enquanto a Qdenga pode ser aplicada em indivíduos que nunca tiveram a doença. Por fim, a Dengvaxia é administrada em três doses, com intervalos de seis meses, enquanto a Qdenga é composta por duas doses, aplicadas com intervalos de três meses.

Durante ensaios clínicos, as duas vacinas contra a dengue revelaram eficácia variável, influenciada pelo sorotipo viral, idade do paciente e seu status sorológico inicial.

A vacina Dengvaxia, até 25 meses após a terceira dose, demonstrou impactantes números de eficácia, cerca de 65% para doença sintomática, 79% para casos graves de dengue, 93% para dengue hemorrágica e mais de 80% para prevenção de internações.

No caso da QDenga, o imunizante apresentou sólida eficácia de aproximadamente 63% para prevenir doença sintomática de qualquer gravidade e notáveis 85% para evitar internações até 54 meses após a segunda dose.

Ambas as vacinas compartilham a avançada tecnologia de DNA recombinante, inserindo genes dos distintos sorotipos do vírus da dengue na estrutura genética de um vírus atenuado. A distinção crucial entre elas está no vírus atenuado utilizado como base. A Dengvaxia incorpora o vírus vacinal da febre amarela, enquanto QDenga utiliza o próprio sorotipo 2 da dengue (DENV-2) atenuado.

Para Guilherme Moreno, que já contraiu a doença no passado, a chegada das vacinas é aguardada e bem-vinda. “Senti dor de cabeça e febre, mas a dor no corpo foi a pior parte. Fiquei uma semana com os sintomas e durante todo esse tempo eu senti que estava com uma gripe muito forte, mas muito pior. Infelizmente por ser tão comum, quando peguei já sabia do que se tratava. Meu irmão quase faleceu com dengue hemorrágica.”

CRITÉRIOS PARA A VACINAÇÃO NO SUS

A vacinação no Sistema Único de Saúde (SUS) será iniciada em fevereiro, abrangendo 521 municípios em regiões endêmicas. A escolha das cidades foi baseada em três critérios: cidades de grande porte (mais de 100 mil habitantes), alta transmissão de dengue nos anos de 2023 e 2024 e maior predominância do sorotipo 2 (DENV-2). No Estado de São Paulo, apenas 11 cidades foram incluídas no programa federal.

A professora e infectologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Raquel Silveira Bello Stucchi, destacou a preocupação com a reintrodução dos sorotipos 3 e 4 ao ser consultada sobre os critérios de seleção para as cidades que receberão as doses. Raquel enfatizou que a eficácia da vacina contra o sorotipo 3 é menor em comparação com os sorotipos 1 e 2. “Existe uma preocupação da reintrodução dos sorotipos 3 e 4. Contra o sorotipo 4 nós não conhecemos qual a eficácia, então nós precisamos lembrar que a vacina contra dengue é um dos mecanismos de contenção da doença. Os cuidados no controle do vetor, como retirar tudo que pode acumular água parada, é fundamental para tentarmos controlar a dengue no nosso município.”

Quanto aos sintomas, Raquel ressaltou que a vacina, com base nos estudos de fase 3, mostrou poucas reações adversas, como dor no local da aplicação, vermelhidão e eventual febre nas primeiras 48 horas. No entanto, alertou para o fato de que a vacina é de vírus atenuado, tornandose inapropriada para pessoas imunocomprometidas, gestantes, lactantes e aquelas com idade acima de 60 anos.

A infectologista disse ainda que o critério para a definição das cidades que receberão o imunizante “está correto”.

“A grande dificuldade de colocar a vacina no programa de imunizações neste momento de explosão do número de casos de dengue em várias cidades do país, é que há um quantitativo de vacina muito pequena. O critério para a liberação está correto. O foco das cidades que ainda não foram contempladas com vacina deve ser manter os alertas para a limpeza. Isso sim é que vai fazer a diferença, porque nós precisamos diminuir a quantidade do mosquito transmissor (Aedes aegypti). Só desta forma que nós vamos de fato diminuir o risco para a população.”

MEDIDAS PARA REDUÇÃO DOS CASOS

A Prefeitura de Campinas mantém ações ininterruptas de combate e prevenção à dengue no município, com eliminação de criadouros, ações educativas e de mobilização da sociedade e organização e limpeza da cidade. No entanto, é preciso contrapartida da sociedade. O Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) estima que 80% dos criadouros estão em residências, por isso a participação da população no combate à dengue é essencial.

Entre as medidas para evitar a reprodução do inseto, estão evitar acúmulo de água, latas, pneus e outros objetos. Os vasos de plantas devem ter a água trocada a cada dois dias. É importante, também, vedar a caixa d’água. Os vasos sanitários que não estão sendo usados devem ficar fechados. A população também pode realizar denúncias por meio do telefone 156.

A orientação da Secretaria de Saúde para pacientes com sintomas da dengue é a busca pelos centros de saúde mais próximo. Os principais sintomas são febre alta (acima de 38˚C), dor no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. Caso os sintomas sejam mais sérios, como tontura, dor abdominal intensa, vômitos repetidos, sudorese fria e sangramentos, a busca por auxílio deve ser realizada em algum pronto-socorro ou em uma das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Campinas.

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