DESCARTE ADEQUADO

Coleta de lixo eletrônico gera receita para escola de Vinhedo

Ecoponto instalado no Centro de Educação Profissional de Vinhedo virou referência e modelo está sendo replicado em dezenas de cidades

Isadora Stentzler/ [email protected]
11/11/2023 às 09:47.
Atualizado em 11/11/2023 às 09:47
A coordenadora do Ceprovi, Vera Lúcia Segatto, destacou que a iniciativa rendeu parcerias com diversas empresas e que o ecoponto instalado na unidade é o único da cidade a receber e fornecer a destinação correta a esse tipo de resíduo (Rodrigo Zanotto)

A coordenadora do Ceprovi, Vera Lúcia Segatto, destacou que a iniciativa rendeu parcerias com diversas empresas e que o ecoponto instalado na unidade é o único da cidade a receber e fornecer a destinação correta a esse tipo de resíduo (Rodrigo Zanotto)

Uma iniciativa sustentável do Centro de Educação Profissional de Vinhedo (Ceprovi) tem transformado todo o lixo eletrônico recebido em retorno na forma de incentivos. A partir de um ecoponto, a escola técnica tem obtido recursos para investir em reparos e na infraestrutura, fornecendo um ambiente educacional mais acolhedor para os estudantes. A medida, que completa sete meses em novembro, já foi replicada por outras 60 cidades do Estado de São Paulo e conta com a parceria do Lions Club e também da empresa Recitek, responsável por separar o lixo eletrônico e garantir o "cashback", a recompensa ao Ceprovi.

A iniciativa surgiu de uma proposta feita à escola por Aldo Freddi Sobrinho, do Lions Clube de Vinhedo, e pelo sócio-proprietário da Recitek, Alexandre Viana. De acordo com a coordenadora do Ceprovi, Vera Lúcia Segatto, a escola, de ensino técnico e profissionalizante sempre teve uma pegada sustentável e atuava na orientação dos estudantes quanto à proteção do meio ambiente.

Dessa forma, foi inserido na escola um ecoponto inaugurado em abril deste ano, junto à tradicional Festa da Uva. Rapidamente o local se tornou referência no município, muito também pelas campanhas realizadas nas redes sociais e divulgações que fizeram com as empresas parceiras do Ceprovi.

“Hoje nós temos empresas parceiras do programa de aprendizagem, divulgamos o ecoponto e a empresa traz os lixos eletrônicos. A grande sacada desse projeto é o cashback: você trabalha uma política educacional de meio ambiente e devolve para a educação”, aponta Vera. O local começou a funcionar embaixo de uma tenda, de forma improvisada, mas hoje já conta com uma estrutura de concreto.

“Isso começou como um projeto-piloto”, relembra Sobrinho. “Quando juntou a escola, com sua bandeira de sustentabilidade, e o Lions, que mundialmente é reconhecido por trabalhar com essa bandeira em seus pilares, unimos forças. Tivemos um crescimento imensurável com essa junção da empresa que dá a viabilidade final mais o ecoponto estruturado. E isso passou fronteiras: hoje já temos 60 cidades replicando esse modelo, baseado na política do Lions, e com uma empresa certificada atuando nos ecopontos.” 

COMO FUNCIONA

Segundo Vera, o espaço do ecoponto na escola é o único no município a receber e fornecer a destinação correta a esse tipo de resíduo. Uma vez no espaço, ele é recolhido pela empresa Recitek, que leva os materiais até o município de São Bernardo do Campo. Lá, ele é pesado e começa a passar pelo processo de separação e trituração das peças até se tornar um material bruto, revendido pela empresa às grandes usinas nacionais.

“Esse material chega e vai para uma linha de desmontagem, onde é segregado por tipo de material: plástico, alumínio, cabo, caço, chips e placas”, descreve Viana.

O maior desafio, nessa etapa, é lidar com o mercúrio, altamente contaminante e que faz com que esse lixo necessite de um tratamento diferenciado.

Entre os principais materiais estão computadores desktops, CPUs, placas de circuito, placas de eletrônicos, notebooks, tablets e laptops, monitores de LCD e plasma, aparelhos de telefone celular, fios, cabos elétricos e metais.

É do peso do lixo que é calculado o valor para ser revertido ao Ceprovi. Viana explica. “A nossa receita vem da usina. A gente pega uma parte desse valor e devolve para a escola de acordo com o peso. Então quanto mais lixo eletrônico, quanto mais gente estiver engajada no projeto, mais recursos a escola terá. E isso não tem teto.”

Em meados de junho deste ano, a escola conseguiu o equivalente a R$ 2 mil a partir do volume de lixo eletrônico arrecadado, valor que foi convertido em investimento na própria unidade. Além disso, a instituição recebe, a cada coleta, um certificado de descarte correto de e-lixo, uma espécie de selo verde que atesta a responsabilidade sustentável do local.

A medida também é usada como programa de educação sustentável, trazendo palestrantes para o Ceprovi e conscientizando os alunos sobre o tema. Ryan Stradioto, de 17 anos, aluno da turma de Técnico em Administração, conta que a iniciativa tem impactado diretamente no dia a dia da escola, pois as melhorias possibilitadas pelos recursos da venda do lixo eletrônico são visíveis. Ele ainda destaca a pegada sustentável como essencial para a conscientização de uma sociedade que pensa no futuro.

“É importante esse exemplo que o Ceprovi está passando para outras escolas e também para Vinhedo”, pondera. “É um passo decisivo para minimamente atuar no combate às mudanças climáticas. Acho que essa causa que estamos apoiando é muito importante não apenas para a cidade, mas para o mundo. Eu mesmo aprendi que alguns materiais, como esta máquina fotográfica (que estava em suas mãos e havia sido retirada dentre os descartes do ecoponto), podem ser reciclados. Nossa coordenadora ensinou que essa máquina será triturada e utilizada para fazer outra máquina ou outro equipamento."

AMPLIAÇÃO

Agora, a escola estuda meios de ampliar o programa com os parceiros dessa iniciativa. Está na perspectiva dos idealizadores uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Vinhedo para que os ecopontos sejam distribuídos em todas as 35 escolas municipais, como parte de um programa de educação e sustentabilidade. Outra meta é abrir o espaço onde está o ecoponto para que fique mais próximo da rua, a fim de que mais pessoas possam dar a destinação correta a seus resíduos.

Viana explica que é muito comum empresas terem espaços específicos para guardar esse lixo, sem descartá-lo por desconhecer os locais para esse fim. Portanto, a ideia é criar um incentivo para que as empresas façam o descarte de forma correta, dando a destinação adequada ao lixo eletrônico.

OUTRAS AÇÕES

A escola ainda mantém outras iniciativas sustentáveis. No mês passado foi inaugurada as cisternas do Ceprovi, que serão usadas para regar o jardim e para fins de limpeza. Elas são ligadas às calhas que passam pelo centro da escola e são preenchidas conforme o volume das águas das chuvas.

Para fevereiro do próximo ano também está prevista a criação de uma horta com adolescentes em conflito com a lei e que estejam cumprindo medida socioeducativa. As cisternas serão usadas como apoio ao programa. Assim, a escola difunde a proteção e cuidado com o meio ambiente não apenas na teoria, mas também no exemplo que deixa aos estudantes todos os dias.

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