PARCERIA INTERNACIONAL

Unicamp participa de sequenciamento genético do café arábica

Projeto envolveu 69 cientistas de 18 países; resultado abre portas para tornar a planta mais resistente às pragas e condições climáticas adversas

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
17/05/2024 às 10:30.
Atualizado em 17/05/2024 às 10:30
O pesquisador João Meidanis, professor do Instituto de Computação (IC) da Unicamp e umdos autores do estudo, afirmou que o conhecimento genético detalhado da planta possibilita fazer alterações para melhorar a qualidade do produto (Rodrigo Zanotto)

O pesquisador João Meidanis, professor do Instituto de Computação (IC) da Unicamp e umdos autores do estudo, afirmou que o conhecimento genético detalhado da planta possibilita fazer alterações para melhorar a qualidade do produto (Rodrigo Zanotto)

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) participou de um projeto internacional inédito, envolvendo 69 cientistas de 18 países, que resultou no sequenciamento genético do café arábica, espécie mais consumida e que corresponde a 70% da produção no Brasil, país que é o maior produtor mundial. O resultado do trabalho abre as portas para impactos econômicos significativos na cafeicultura, viabilizando o melhoramento genético da planta para torná-la mais resistente às pragas, condições climáticas adversas e aumentar seu valor agregado.

Em 2023, o país faturou R$ 49,37 bilhões com a cultura, de acordo com o Observatório do Café, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O Estado de São Paulo é o segundo maior produtor nacional do arábica, com 5,03 milhões de sacas no ano passado, apontou balanço da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Cidades da Região de Campinas estão entre as principais produtoras paulistas, como Espírito Santo do Pinhal e São João da Boa Vista.

“Agora, com um conhecimento genético mais detalhado da planta, poderemos analisar quais genes estão relacionados com cada uma de suas características, como acidez, aroma e sabor, e fazer alterações gênicas para obtermos um produto de maior qualidade”, explicou o pesquisador João Meidanis, professor do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, um dos autores do estudo. O sequenciamento genético decodificou a sequência das bases nitrogenadas de uma molécula inteira do ácido desoxirribonucleico (DNA), identificando compostos como adeninas, timinas, citosinas e guaninas, com o resultado sendo publicado na revista científica Natural Genetics.

“Foi um esforço muito grande de uma comunidade internacional, com todos os continentes representados”, afirmou Meidanis. Ao saberem a sequência, os cientistas conseguem analisar quais trechos podem ser responsáveis por características específicas do café, fazendo mudanças para aprimorar as qualidades da planta. O sequenciamento genético detalhado foi possível com a evolução da bioinformática, tecnologia que começou a ser empregada na década de 1980. Ela permitiu decodificar quantidades cada vez maiores de genes e montar sequências mais longas e complexas. “Há muitas etapas realizadas pela bioinformática que também são relevantes, como a análise estatística das características encontradas e a comparação dos genomas, entre outras”, explicou Meidanis, pesquisador que é especialista nesta área.

CRUZAMENTO

O café arábica (Coffea arabica) é resultado do cruzamento de outras duas espécies, a Coffea canephora, que no Brasil é conhecida pelas variedades conilon e robusta, e a Coffea eugenioides, produzida no Oeste da África.

A pesquisa realizada pelo grupo científico fez a comparação do DNA das três espécies, verificando o que há de comum entre elas. O estudo permitiu mapear os caminhos genéticos trilhados pelo arábica até chegar às características atuais. Foram sequenciadas 46 amostras de café vindas de diferentes regiões e de cruzamentos com outras variedades. O número de exemplares analisados tornou o trabalho muito mais complexo, pois o arábica apresenta células tetraploides, com quatro cópias de cada cromossomo. Quando se usa duas espécies originais, o sequenciamento se restringe a células diploides, que são as com dois conjuntos de cromossomos.

A pesquisa realizada pelo grupo científico fez a comparação do DNA das três espécies, verificando o que há de comum entre elas. O estudo permitiu mapear os caminhos genéticos trilhados pelo arábica até chegar às características atuais. Foram sequenciadas 46 amostras de café vindas de diferentes regiões e de cruzamentos com outras variedades. O número de exemplares analisados tornou o trabalho muito mais complexo, pois o arábica apresenta células tetraploides, com quatro cópias de cada cromossomo. Quando se usa duas espécies originais, o sequenciamento se restringe a células diploides, que são as com dois conjuntos de cromossomos.

Os pesquisadores também mapearam o movimento migratório do café arábica, da região do Grande Vale do Rift, onde hoje é a Etiópia, até o Iêmen, na Península Arábica, daí a origem de seu nome.

Os cientistas identificaram ainda conjuntos de genes em uma variedade híbrida natural da ilha de Timor, descoberta em 1927 e derivada de um cruzamento do arábica com a Coffea canephora, que podem explicar a resistência da espécie à ferrugem do café. Essa é a principal doença que prejudica a cafeicultura brasileira. Ela pode provocar a inviabilização do plantio com diversos prejuízos, como a queda de 30% até mais de 50% na produção, dependendo do cultivar, nutrição das plantas e do clima predominante na região. Outras doenças que afetam a cultura são a mancha de phoma, cercosporiose, seca dos ponteiros e nematoides das galhas.

A cafeicultura é uma das principais atividades agrícolas brasileiras. A produção no ano passado foi de 55,1 milhões de sacas de todas as espécies, crescimento de 8,2% em comparação ao ciclo de 2022, segundo a Conab, órgão do Ministério da Agricultura e Pecuária. No geral, São Paulo é o terceiro maior Estado produtor, atrás de Minas Gerais, onde também predomina o café arábica, e do Espírito Santo, onde a espécie mais plantada é a conilon. A área ocupada pela cultura é de 1,9 milhão de hectares, segundo a Embrapa. Um levantamento do Conselho Nacional do Café (CNC) apontou que a atividade envolve 330 mil produtores em todo o país, número equivalente à soma das populações de Hortolândia e Paulínia, duas das principais cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC).

MERCADO

O café é cultivado em mais de 50 países ao redor do mundo e é uma das seis commodities mais comercializadas, entrando na lista junto com o petróleo, gás natural, ouro, prata e cobre. A planta foi introduzida no Brasil em 1727, com as primeiras mudas sendo trazidas da Guiana Francesa pelo oficial português Francisco de Mello Palheta. Atualmente, o país é responsável por 42% da produção mundial e é o segundo maior mercado consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos.

O consumo nacional per capita é estimado em 6,4 quilos por ano. O produto está no sexto lugar das exportações do agronegócio do Estado de São Paulo, com vendas de US$ 399,29 milhões (R$ 2,04 bilhões) no primeiro quadrimestre deste ano, de acordo com balanço divulgado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento. Do total exportado entre janeiro e abril, 73,6% foram de café verde e 23,1% de café solúvel.

Os outros cinco produtos mais exportados são do complexo sucroalcooleiro (US$ 3,65 bilhões), produtos florestais (US$ 998,52 milhões), carnes (US$ 986,35 milhões), complexo da soja (US$ 915,94 milhões) e sucos (US$ 762,63 milhões). Segundo o IEA, as exportações do agronegócio paulista nos quatro primeiros meses do ano representaram 17,9% do brasileiro, aumento de 2,3 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2023. “Vemos que mesmo em cenários adversos, com quebra de safra, com preço de commodities menos atrativo, o produtor rural do Estado de São Paulo não deixa de exercer com competência seu trabalho que garante comida na mesa de diversas partes do Brasil e do mundo e, paralelamente, mantém seu posto como mola propulsora da economia paulista”, avaliou o secretário estadual de Agricultura, Guilherme Piai.

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